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O “serial-killer”

Os sinais recentes do comportamento da despesa pública e da dificuldade em contê-la, apesar dos esforços já feitos, parecem cenas de um autêntico “thriller”.

A vítima julga-se a salvo, mas não, o assassino está vivo e de novo a espreitar pela janela. O Estado, com o que gasta e como gasta, é o “serial killer”. As vítimas, em série, são os cidadãos cumpridores. Em rigor, o Estado alimenta-se das nossas vidas. Alimenta-se do nosso trabalho, alimenta-se do futuro dos nossos filhos.

Nunca é de mais insistir que só o que pagamos de IRS e IVA pode chegar a mais de 50% e que a carga fiscal, para um português a quem a vida correu minimamente bem, pode ultrapassar os 65%. Falando em escudos, por cada cem contos que se ganha, sessenta e cinco são entregues ao Estado. Vive-se com os outros trinta e cinco, isto é, apenas com um terço daquilo que se ganhou. O “serial killer” corta-nos aos bocados e leva dois terços. Para aqueles a quem a vida não corre tão bem, leva metade.

O pesadelo da despesa pública só terá fim se o Estado for profundamente reformado. Mas há coragem para isso?

A esperança das vítimas é este ciclo político. No ciclo anterior, gerido pelos socialistas, o Estado gastava a seu belo prazer, sem o mínimo respeito pela vida das suas vítimas. O debate para a liderança do PS revela que esta preocupação não existe. Se o PS voltar ao governo, o “serial killer” atacará ainda com mais violência. Os socialistas falam de políticas sociais sem fazerem contas. Para a vítima é arrepiante imaginar esta gente de novo a gerir o Estado, é como sentir os passos do “serial killer” a entrar no quarto enquanto dormimos.

Nenhum socialista devia poder ser candidato a líder do PS antes de ser aprovado por Vítor Constâncio. Por isso, a esperança das vítimas é o actual governo. Como nos “thrillers”, há sempre o momento em que a vítima se entrega, confiadamente, ao “serial killer”. Confesso que o faço, seja o que Deus quiser. Acredito que António Bagão Félix tem a mesma íntegra determinação que tinha Manuela Ferreira Leite, como Pedro Santana Lopes tem a mesma convicção que tinha José Manuel Durão Barroso: é urgente conter a despesa pública, não tanto para evitar castigos europeus, mas para poder reduzir os impostos.

Cada vez que compramos uma camisa, damos duas iguais ao Estado! Fomos educados a dar a camisa a quem precisa, não a dar duas camisas a quem gasta sem critério. Para segurar este “serial killer” só soluções extremas. Um pacto de regime, por exemplo, sempre seriam dois a tentar agarrar a besta. Mas como fazer um pacto, se o herói dos socialistas é o próprio “serial killer”?

Outra solução, chamar os “federals”, como se diz nos EUA. Pedir à União Europeia que castigue, não só os défices excessivos, mas a própria incapacidade de reformar o Estado. Gastamos 15% do PIB com funcionários públicos e a média europeia é de 10%? O castigo seria não receber fundos e pagar multas se, em prazo certo, não atingíssemos a média. É sonhar alto, esta de chamar os “fed’s”…

Resta o mito dos forcados, o teso português. O primeiro-ministro teso, o ministro teso, o governo teso. Resta confiar. A vítima não tem outra esperança que não seja confiar que o teso que disse que ia dominar o “serial killer” o vai conseguir. A questão é simples: ou o Governo põe o Estado na ordem ou o Estado põe o Governo no bolso. Se o teso de serviço falhar, resta-nos sair à rua, de varapau cívico na mão, e tratar do assunto. Com as nossas vidas não se brinca.

Por: António Pinto Leite

Rede Expresso

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