É muito bonito andar pelos órgãos de comunicação social a pregar a descentralização para os municípios, mas convém que dentro de cada concelho se faça bem o trabalho de casa. Vem isto a propósito de um investimento que é crucial para o potencial turístico da Guarda – a estrada de ligação direta da Guarda ao maciço central da Serra da Estrela – a chamada “estrada verde”, aproveitando vias e caminhos existentes na encosta noroeste da Serra, permitindo, não só o acesso, como a valorização de paisagens (quase) inacessíveis até hoje.
Motivos não faltam para visitar a Guarda e a sua região, uma vez que esta oferece um importante conjunto de atrações turísticas, desde as gravuras rupestres do Vale do Côa, Património da Humanidade, às Aldeias Históricas, passando pelo turismo de natureza, o turismo militar e religioso e até o turismo da saudade. Tudo são bons motivos para uma visita.
O problema é que há uma atração de relevo nacional, e até internacional, que, estando tão perto da Guarda, está ao mesmo tempo tão distante dela. A Serra da Estrela é uma área protegida, parque natural, reserva biogenética com espécies únicas de fauna e flora, com uma beleza ímpar, mas para a qual a Guarda continua tristemente de costas voltadas.
Parece um paradoxo, mas é verdade: a Guarda está na Serra, mas, para chegar à Serra, é preciso contorná-la longamente, criando uma distância e um tempo real de acesso que afasta as pessoas.
Curiosamente, em 2002, a Comissão de Coordenação da Região Centro fez publicar em “Diário da República”, no âmbito de um contrato-programa de requalificação de acessibilidades (a AIBT da Serra da Estrela), a seguinte intervenção prioritária:
«Estrada verde intermunicipal, ligando a Guarda ao maciço central – o acesso direto da Guarda ao maciço superior da Serra da Estrela só poderá ser assegurado pelo desenvolvimento de uma estrada (estrada verde), que, aproveitando estradas municipais e caminhos florestais já existentes no terreno, se pretende de características turísticas, respeitadora das condicionantes ambientais, com parques de repouso que privilegiem a deslumbrante paisagem que dela se possa disfrutar».
Passados mais de 15 anos, nada foi feito. Por isso, sr. presidente da Câmara Municipal da Guarda, Dr. Álvaro Amaro, não atrase mais esta obra que é estratégica para o concelho e para a cidade. Para a fazer, a Câmara não precisa do Estado central. Basta a sua decisão e verbas europeias.
Aliás, e já que falamos em Europa, se o Senhor for para o Parlamento Europeu, como se diz, não deixe esta estrada por lançar.
* Dirigente sindical