Um dos locais onde surgem diversas referências a Judiarias é na Beira Interior, quer em documentos escritos medievais, quer em escassos vestígios por entre o casario dos centros históricos.
O estudo de diversas judiarias levou à identificação de características comuns, permitindo novos dados no estudo das mentalidades da população medieval. De facto, a comparação entre diversas comunidades e a forma como estas se adaptaram aos espaços urbanos permitiu verificar que a implantação era muito semelhante, nomeadamente em espaços secundários da almedina, mas perto de uma das portas do sistema defensivo e de vias principais, locais de afluência de pessoas, propícias ao comércio, uma das principais actividades da comunidade judaica.
Actualmente conhecemos a localização de diversas judiarias, principalmente pelas fontes históricas e as referências que contêm sobre a geografia urbana ainda hoje perceptíveis na malha urbana. Destas fontes destacam-se os contractos de aforamento. Uma segunda forma diz respeito à análise de elementos arquitectónicos, tais como os símbolos religiosos, vulgarmente denominados “cruzes de cristãos novos”, cuja elevada concentração poderá denunciar a judiaria.
As judiarias funcionavam como espaços autónomos no interior do perímetro muralhado, ou seja, mediante o pagamento de impostos aos monarcas, a comunidade judaica tinha locais de culto (a sinagoga), banhos, poços de água, hospitais (especialmente nas grandes cidades), entre outros equipamentos.
Embora os judeus vivessem no interior muralhado das cidades, a comunidade cristã efectuava diversas queixas, registadas nas cortes. Verificava-se mesmo um certo controlo de comportamentos, implantando igrejas nas proximidades das judiarias.
A análise da imagem que junto apresentamos permite verificar uma elevada concentração de judiarias na área interior do reino e no litoral, relativamente ao século XV, época em que se verificou um aumento do número de comunas, em parte devido à fuga de Castela. Muitos ficaram nas áreas de fronteira, enquanto a maioria avançou até ao litoral, onde se localizavam as grandes urbes. Segundo as fontes escritas para este período existiam 139 comunas dispersas pelo reino, com especial incidência na Beira e Alentejo.
Entre as actividades que os judeus desempenhavam, principalmente na área do Interior, salientava-se a produção e transformação de tecidos, metalurgia, fabrico de armas e peles. Na cidade da Guarda as fontes históricas referem ainda mercadores e um físico. De facto, nas Beiras a comunidade judaica encontrava-se sobretudo ligada ao comércio de produtos nas feiras regionais.
Com o édito de expulsão dos judeus, em 1496, deixa de existir uma “comunidade institucionalizada”, embora aqueles que ficaram e se converteram certamente continuaram a ocupar o mesmo espaço físico, que ocupavam à vários séculos.
Por: Vítor Pereira