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S… 2

Corta!

Numa qualquer indústria, o objectivo final é sempre o lucro. Que Hollywood olhe para o cinema como um negócio, antes de nele ver potencial artístico, é já um lugar comum, e o aparecimento de qualquer filme, dali saído, que consiga, de alguma forma, aproximar-se da ideia de obra de arte, só deve ser visto como excepção e nunca a regra. Para o bem e para o mal, sempre foi assim, e nada parece indicar que venha a mudar.

Conseguir um sucesso em Hollywood, no entanto, não é tão fácil e óbvio, como alguns poderão pensar. Não são poucas as vezes em que um filme que parece reunir todos os ingredientes necessários para que em breve entre no estrelato dos milhões de dólares, necessários para alimentar esta máquina constantemente faminta, falhe por completo tal meta. E por tudo isso, o normal, e desde há muito habitual, é apostar apenas naquilo que à partida já está ganho. Se um qualquer filme é um sucesso, o melhor mesmo é continuar esse sucesso. E venha daí a sua continuação. Por mais dois ou três capítulos. Pelo menos até o público começar a desaparecer.

Foi isso que aconteceu com «Spiderman – Homem-Aranha». Depois do enorme sucesso com o primeiro filme, não restava outra hipótese que não a sua continuação. E ela aí está, há já umas semanas em cartaz, a provar que esta regra de Hollywood continua a dar frutos. O sucesso tem sido ainda maior que da primeira vez. E não será de admirar que a saga continue.

Se da primeira vez, Sam Raimi, que ficou responsável pela difícil tarefa de levar o Homem-Aranha até à grande tela, jogou pelo seguro, com um filme sem grandes surpresas e que não abandonou nunca o óbvio, numa quase colagem ao registo de Tim Burton para «Batman», tudo mudou neste segundo capítulo. A responsabilidade agora, depois de tão grande sucesso com o anterior filme, já não existia, ou pelo menos não terá sido tão grande. Mais solto e divertido, «Spiderman 2» consegue superar o seu antecessor em praticamente todos os capítulos.

O mais famoso ogre verde é outro sucesso que regressou este ano para vir buscar a sua fatia de bolo. Tendo conquistado miúdos e graúdos quando surgiu, «Shrek», tal como aconteceu com «Spiderman», consegue agora, com o segundo filme, ultrapassar todos os recordes por ele antes batidos. Em equipa que ganha não se mexe. Ou pelo menos não se mexe muito, e por isso mesmo este novo «Shrek» pouco adianta ao anterior, não indo assim defraudar os fãs. Jogar pelo seguro, eis a regra que é preciso não esquecer.

O que primeiro se repara neste «Shrek 2» são as constantes citações/homenagens cinéfilas, que certamente muitos não identificarão, mas agradável recompensa e interessante jogo para os restantes. Onde antes a inspiração passava toda ela pelos contos de fadas, é agora o cinema que ocupa esse lugar. Estaremos aqui a assistir a uma passagem de testemunho? Afinal, o cinema é já, a par da televisão, a principal fonte de cultura para grande parte das pessoas, conseguindo, como poucas artes o conseguem nos dias de hoje, unir numa cultura comum (a do próprio cinema com as suas regras, preconceitos e ideais), pessoas de todo o mundo. Pessoas que vivendo mergulhadas em diferentes culturas, conseguem ainda assim entender e identificar-se com essa sub-cultura, como antes acontecia com esses contos de fadas, partilhados de geração para geração.

Este «Shrek 2» é apenas indicado para quem tenha gostado da primeira experiência. Para todos os outros, este não passará apenas de um daqueles filmes para ver enquanto se espera pela consulta do dentista.

Para a semana, neste espaço, o polémico «Fahrenheit 9/11», que o Corta! já viu… e não aconselha.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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