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A obrigação moral

O ministro das Finanças vai reunir pessoalmente com cada um dos ministros para os sensibilizar para a necessidade de conter as despesas. É um bom princípio – embora essas conversas não resolvam certamente tudo, sendo necessário Bagão Félix mostrar uma atitude firme no momento da verdade.

Foi isso que aconteceu com Manuela Ferreira Leite, e por isso era odiada fora e dentro do PSD e do Governo.

Veremos se Bagão tem a mesma firmeza de Ferreira Leite para dizer «não».

A questão orçamental traz ao de cima um problema que foi pouco tratado e que é o seguinte: se tivesse havido eleições e o PS as tivesse ganho, criava-se um problema insolúvel a esse nível.

Tendo criticado sempre Manuela Ferreira Leite e a sua «obsessão» com o défice, o PS tinha necessariamente de fazer uma política diferente.

E, se não ganhasse as eleições sozinho e precisasse do apoio do PCP e do BE, o problema ainda seria mais grave: alguém está a ver Carlos Carvalhas e Francisco Louçã a defenderem a contenção orçamental?

Nesse cenário, o país ver-se-ia a braços com um problema que ninguém saberia muito bem como resolver, quando chegasse a hora de responder perante Bruxelas.

Além de que seria posto em causa todo o esforço feito nos últimos dois anos, em que os portugueses tiveram de apertar o cinto.

Com Santana Lopes e Bagão Félix, vamos ver o que acontece.

Uma coisa é certa: se tivesse havido eleições, o PS as ganhasse e formasse Governo, não tinha obrigação de continuar a política de Manuela Ferreira Leite, antes pelo contrário: tinha obrigação de a alterar, visto que a tinha criticado em público.

Santana e Bagão podem também não cumprir o défice.

Mas, pelo menos, têm a obrigação moral de o fazer.

Por: José António Saraiva

Director do Expresso

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