A criação de uma rota paleolítica ao longo do leito do Rio Zêzere, no concelho do Fundão, voltou a ganhar um novo fôlego na semana passada com a descoberta de um conjunto de oito gravuras rupestres do neolítico ou calcolítico no lugar do Poço do Charquinho, na Quinta do Canal, em Janeiro de Cima.
A objectiva de Diamantino Gonçalves, o fotógrafo que encontrou por mero acaso no ano passado as gravuras paleolíticas com mais de 15 mil anos na Barroca do Zêzere enquanto procurava, com o designer Belarmino Lopes, paisagens para ilustrar as páginas de um livro, voltou a descobrir mais gravuras nas rochas de xisto que decoram as margens das águas do Zêzere. Agora, a «procura» das imagens rupestres torna-se quase uma obrigatoriedade para o fotógrafo fundanense depois de ter encontrado as primeiras gravuras. «É muito possível que haja mais gravuras ao longo do rio», diz Diamantino Gonçalves a “O Interior”, acreditando que há mesmo uma «predominância deste tipo de figuras» junto ao Zêzere por causa das inúmeras rochas de xisto e por terem sido sítios muito povoados há mais de 20 mil anos. Situadas a 10 quilómetros de distância da Barroca do Zêzere, as figuras rupestres de Janeiro de Cima validam cada vez mais a teoria da criação de uma rota turística à volta das gravuras paleolíticas entre os vales do Tejo, Zêzere e Côa, apesar destas últimas gravuras datarem do neolítico, com cinco ou seis mil anos de existência. Um período mais recente, mas que nem por isso impede este novo achado de ser considerado importante pelos arqueólogos e técnicos do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNAR).
Daí que irá ser criado, provavelmente até ao final do ano ou início de 2005, um Centro de Interpretação de Arte Rupestre (CIAR) na Casa Grande da Barroca. Um espaço que está actualmente a sofrer obras de recuperação para ser ainda a sede da Rota das Aldeias do Xisto e que deverá estar pronto dentro de três meses. O CIAR do Fundão irá ser dedicado às gravuras da Barroca do Zêzere para que os visitantes possam «perceber o que vão ver», explicou Martinho Batista, director do CNAR. O Centro de Interpretação do Fundão será composto essencialmente por imagens, desenhos, fotografias e vídeos, tudo para fazer um «enquadramento arqueológico e temporal» das gravuras, adianta aquele responsável. Apesar de ainda não ter visitado os novos achados, nem ter feito uma avaliação “in loco”, Martinho Batista tem a «certeza» de que serão encontradas mais gravuras nesta zona do interior do país. É que além do Zêzere ser um «tributário» do rio Tejo, «os rios com xisto têm quase sempre gravuras», confia. A prioridade do momento é «preservar o local», tal como tem sido feito na Barroca, adianta o vice-presidente da autarquia fundanense, Carlos São Martinho, tendo em conta que as gravuras paleolíticas e as neolíticas até agora encontradas são um factor importante para atrair muitos visitantes e dar um novo fôlego ao Fundão e à região, podendo ainda ser um local de referência para visitas de estudo de muitas escolas. Nesse sentido, a concessão da mina hídrica no Poço do Caldeirão, na Barroca do Zêzere, foi alvo de um estudo de impacte ambiental e está a ser acompanhada por especialistas para que «não se prejudiquem as gravuras que se encontram naquela zona», assegura Carlos São Martinho.
Liliana Correia