Neste tempo, em que a pretexto de umas férias, saímos do nosso habitat normal e com calma e tempo, vamos conhecendo outras paragens e cidades com uma dimensão parecida á nossa Guarda, pomo-nos em contacto quase diria com outros mundos e outras dinâmicas, que nos deixam muitas vezes a reflectir.
Este exercício, não só é contemplativo face a novas coisas bonitas e agradáveis em termos de vista e de ambientes, como tem muito de comparativo com o nosso padrão de referencia que é a Guarda.
Assim, ao vermos avenidas largas, arborizadas, com passeios espaçosos para as pessoas circularem sem atropelos, nas novas urbanizações, jardins bem concebidos mesmo sem grandes luxos, mas funcionais, parques de estacionamento acessíveis e centrais, ruas e esplanadas limpas e com bom gosto, sem precisarem de se encavalitar nos arruamentos, centros históricos recuperados e, tantas outras coisas, que fico a pensar quantos anos terão que passar na Guarda, para que nesta meditação comparativa nós sintamos ao menos que estamos a par.
Invade-me então uma onda de frustração por sentir que estamos a ficar para trás e bem tento encontrar explicações que me aliviem esta mágoa, como a falta de apoios, o nosso interior desprezado, as intrigas políticas, o baixo nível cultural, a burocracia dos processos, os jeitos aos amigos, as negociatas, etc., etc..
Por mais voltas que dê não consigo deixar de me sentir também culpado e corresponsável, enquanto cidadão natural e residente nesta terra, e pior ainda, chego muitas vezes a duvidar da possibilidade em se vir a alterar toda esta situação.
Estou cada vez mais convencido que este ar que respiramos, embora se comprove agora a sua excelente qualidade para a saúde, nos leva muitas vezes à resignação do culto da mediocridade, da irresponsabilidade e do laxismo.
Um bom e actual exemplo, é o recente caso das bactérias das piscinas, que levaram, para desconsolo de muitos, ao seu encerramento.
Nestas conversas que vou tendo comigo, questiono-me muitas vezes se a culpa estará nos partidos ou nas correntes ideológicas que dizem prosseguir, mas cada vez mais me convenço que essa é uma falsa questão, ou pelo menos não é aí que se encontra a principal razão que nos leva a tanto desconsolo.
Creio que a verdadeira razão está nas pessoas, na sua visão dos problemas, na sua determinação, capacidade e entusiasmo em abarcar todos estes desafios.
A Guarda tem sido uma cidade adiada e só poderá recuperar o tempo perdido se souber encontrar alternativas que se fundamentem nestes novos pressupostos.
Por: Álvaro Estêvão