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Seguros de colheitas – Que garantias?

Este foi um Verão muito difícil para toda a agricultura aqui no nosso distrito, precedido por uma Primavera não muito melhor.

Durante os meses de maio e junho, tivemos tempo frio e chuvoso, que retardou o “abrolhamento” da vinha, o excesso de humidade contribuiu para o desenvolvimento de vários focos de míldio na região, que, de forma anormal resistiu a vários tratamentos, independentemente de todos os produtos fitossanitários que os agricultores utilizaram.

E, por fim, chegou o anormal e muito quente mês de agosto, que, logo no seu início atingiu temperaturas que provocaram um “escaldão” e determinaram perdas na produção da vinha de cerca de 80%.

Um pouco por todo o distrito isto ocorreu, havendo registos neste sentido, pelo menos, nos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Trancoso, Meda e Pinhel. Mas, infelizmente, não foi só a produção de vinho que foi afetada, também outras o sentiram, como a de castanha, que sofreu já enormes e incontornáveis perdas.

A direção da Adega Cooperativa de Pinhel questionou oportunamente o Ministério da Agricultura sobre as supra descritas anomalias climatéricas que afetaram de forma tão gravosa a região e requereu que pudesse o Fundo de Calamidades ser acionado em face de tais circunstâncias. Em nota enviada à comunicação social o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural veio informar que «está a acompanhar esta situação, para a qual dispõe já de mecanismos de apoio».

Na mesma nota, aquele Ministério esclarece ainda que «financia um sistema de seguros de colheitas agrícolas, no qual se incluem os seguros vitícolas de colheitas», referindo ainda que estes seguros «estão disponíveis para todos os agricultores que a eles pretendam recorrer e são cofinanciados pelo Estado».

Acrescenta ainda que «o Fundo de Calamidades foi extinto, sendo que, enquanto vigorou, apenas era aplicável a riscos não cobertos pelo sistema de seguros, o que, manifestamente, não é o caso», conclui. Pelo que, assim sendo, se depreende que o Ministério da Agricultura, pese embora esteja a acompanhar a situação, não fará nada mais para garantir alguma ajuda económica a estes agricultores que ficaram com as suas colheitas quase reduzidas a zero.

Deste modo e, em face da situação calamitosa para muitos, algumas são as questões que se impõem, tais como; se ativar linhas de apoio ao setor vitivinícola, desenvolvendo todos os procedimentos no sentido de acionar o Fundo de Calamidades para a área de influência desta e de outras Adegas Cooperativas, com apoio aos respetivos associados, não é aplicável, como referem, por estar coberto por um sistema de seguros (que praticamente nenhum agricultor consegue pagar) que outras medidas de apoio poderão ser agilizadas?

Considerando as perdas quase absolutas que estas entidades referem ir ocorrer a uma grande percentagem de agricultores que dependem na exclusividade deste rendimento, se ainda assim, nenhuma outra medida pode ser equacionada?

É que se os nossos agricultores não contratualizaram esta cobertura adicional, não foi por falta de vontade e, sim, por manifesta impossibilidade de suportar mais um avultado encargo de cerca de 300 euros por hectare, considerando o preço do seguro de colheitas definido/fixado para a região.

E qual a estimativa de perda ao nível da região que o Ministério faz, devido a esta situação climatérica extrema (escaldão), em termos de quantidade, em termos de valores e correspondentes perdas nas vendas e, ainda, no que isso determinará em termos económicos no valor acrescentado para a nossa região?

Superioridade ou hipocrisia

Também neste verão o BE surpreendeu. Surpreendeu Ricardo Robles, o especulador bloquista, que ofereceu aos portugueses um dos maiores espetáculos de hipocrisia de que há memória.

A verdade é que os bloquistas, aliás toda a esquerda radical, se acha moralmente superior aos seus adversários. Um complexo que, por seu turno, gera sentimentos de impunidade. No fundo, não passam de típicos dirigentes políticos da “esquerda caviar”, com que o seu eleitorado, sobretudo o proveniente das classes média-alta, tanto gosta de se identificar porque lhe permite assinalar a “virtude”, sem ter de renunciar ao “vício”. É o eleitorado que, tal como muitos dos dirigentes do BE, abomina o capitalismo, mas gosta de beneficiar dele. Adora a escola pública, mas coloca os filhos a estudar nos melhores colégios privados. Rasga as vestes pelo Serviço Nacional de Saúde, mas para os encontrar temos de ir aos hospitais privados.

Este complexo de superioridade moral de Ricardo Robles esteve bem presente na recusa à sua renuncia dos cargos políticos que exercia. Acabou por se demitir, é certo. Fê-lo por força da pressão mediática, não porque tenha manifestado consciência da prática de um ato moral ou eticamente condenável. Renunciou contrariado e teve de ser empurrado.

Por: Ângela Guerra

* Deputada do PSD na Assembleia da República eleita pelo círculo da Guarda e presidente da Assembleia Municipal de Pinhel

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