A região toca a rebate contra o fecho das estações de Correios em Manteigas e Fornos de Algodres, duas sedes de concelho do distrito da Guarda.
A Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) foi a primeira a reagir para manifestar o seu «repúdio público» ao já confirmado encerramento dos CTT naquelas vilas. «A empresa CTT – Correios de Portugal, SA, concessionária do serviço público postal, anunciou para breve o encerramento daquelas duas lojas», refere a CIMBSE. A entidade presidida por Carlos Filipe Camelo, autarca de Seia, acrescenta que, a concretizar-se a intenção, aqueles dois concelhos ficarão «privados de qualquer loja dos CTT e sem um efetivo serviço de proximidade que garanta aos seus cidadãos a possibilidade de usufruir de um serviço postal de qualidade conforme é estabelecido pela Lei e pelo instrumento da concessão». Em comunicado, a CIMBSE considera que este desfecho «se traduziria num desrespeito pelas obrigações que assumiu enquanto concessionária do serviço público postal, degradando ainda mais os níveis de prestação desse serviço e causando irreparáveis prejuízos às populações afetadas».
E pede à Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) e ao Governo que «usem de todos os meios» para impedir o fecho dos Correios de Manteigas e Fornos de Algodres, justificando que «não se compreende que territórios de interior e de baixa densidade populacional possam ver de qualquer modo diminuída a sua, já débil, possibilidade de acesso a este serviço». Também os partidos políticos já vieram a terreiro. Na Assembleia da República o deputado socialista Santinho Pacheco perguntou ao Governo «como pensa obrigar a empresa CTT ao cumprimento escrupuloso do serviço público de correios a que está obrigada» e que consequências tira «da prática reiterada em muitas regiões do país, no interior em particular, pelo facto da empresa não praticar um serviço público de qualidade no interesse das populações».
Numa pergunta dirigida ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas, o eleito pelo círculo da Guarda também quer saber se a tutela está disposta a apoiar os autarcas e populações de Fornos de Algodres e Manteigas «na defesa do seu direito a um serviço postal de qualidade». Também a deputada Ângela Guerra (PSD) pediu satisfações perguntando ao Governo se teve conhecimento prévio da decisão de encerramento destes balcões e, se sim, «quando e quais os critérios apresentados pela empresa que justifiquem esta opção e em concreto destes dois balcões». A social-democrata quer ainda saber «que efetivas alternativas de serviço postal universal, sem discriminação de qualquer espécie, vão ser oferecidas a estas populações», tendo em conta a «inexistência de qualquer alternativa conhecida, a tipologia dos territórios em apreço (em particular o de Manteigas) e a necessidade de lutar contra a desertificação das regiões de interior, mais despovoadas, em que a população é idosa na sua grande maioria, pessoas que vivem sozinhas e, por isso, com dificuldade de deslocação».
PCP responsabiliza «novos donos»
O mesmo quer saber o deputado do CDS-PP João Rebelo, para quem a concretizar-se o encerramento destes dois balcões será colocado em causa «não só o serviço de proximidade às populações e às empresas, mas também o próprio serviço postal universal, de cujo acesso de proximidade as populações em causa ficarão privadas». O centrista questionou ainda o Governo se com esta decisão continua assegurado o contrato de serviço postal universal existente entre os CTT e o Estado. Para o PCP o fecho das estações de Correios em Fornos e Manteigas está fora de questão porque «são um serviço público fundamental às populações». Em comunicado, a Direção da Organização Regional da Guarda (DORG), liderada por Vladimiro Vale, recorda que já fecharam vários postos e estações dos CTT no distrito, tendo a estação de Seia sido «descaracterizada», com o serviço a ser prestado em «estabelecimentos comerciais que não prestam os mesmos serviços que as estações dos CTT».
O PCP da Guarda considera que os Correios são «um serviço público fundamental às populações, à economia nacional, ao desenvolvimento regional e à coesão territorial», sendo também «essenciais para as camadas mais idosas e para as pequenas e médias empresas». Por isso, é «inaceitável que, num momento em que se fala tanto dos problemas do interior», continuem a encerrar serviços. De resto, os comunistas sublinham que «a degradação da prestação de serviços dos CTT não pode ser desligada da política de sucessivos governos PS, PSD e CDS que visava privatizar este importante serviço». E acusam: «Os novos donos (grandes grupos económicos estrangeiros) querem retirar lucros rápidos e aproveitar a rede dos CTT para implantar um banco – que sempre foi adiado quando a empresa era pública – enquanto degradam o serviço público postal».