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«Se querem jovens e trabalhadores motivados têm de os respeitar e remunerar para tal»

Cara a Cara – Marisa Tavares

P- O que a levou a candidatar-se à presidência do STBB?

R- Não existiu nenhuma candidatura, de três em três anos há eleições para os corpos gerentes do Sindicato Têxtil da Beira Baixa e, de acordo com os estatutos, na primeira reunião são eleitos o presidente, vice-presidente, tesoureiro, primeiro e segundo secretários. Sempre foi eleito por unanimidade o camarada Luís Garra, que há alguns anos vinha demonstrando a importância e a necessidade de ser eleito outro presidente por forma a dar-se continuidade ao rejuvenescimento da direção. Tendo em conta este contexto, nesta primeira reunião foram propostos os nomes de vários camaradas para os cargos dirigentes e o meu foi indicado para presidente da direção. Todos foram votados por unanimidade.

P- Quais os objetivos deste mandato?

R- Para este mandato os objectivos continuam a ser os mesmos. Somos uma organização de classe e está sempre presente a organização dos trabalhadores, a defesa dos seus direitos e a reivindicação por melhores salários que nos permitam ter condições de vida fora do limiar da pobreza. Como referimos na tomada de posse: vamos respeitar o passado construindo o futuro. A luta dos trabalhadores ao longo dos anos nunca foi fácil mas os trabalhadores do distrito sempre nos deram grande orgulho na sua mobilização e organização. A história do movimento operário no distrito de Castelo Branco é sobejamente conhecida e reconhecida no seio do movimento sindical e não só. Esta direcção dará continuidade à defesa da contratação coletiva, lutará pelo aumento dos salários e pela dignificação das profissões. O nosso sector é extremamente importante e as entidades patronais têm que perceber, de uma vez por todas, que se querem revitalizar e rejuvenescer o setor, se querem jovens e trabalhadores motivados, têm de os respeitar e remunerar para tal. Não basta dizerem que têm trabalho e não têm trabalhadores, têm de dizer o porquê! E a razão é por todos conhecida. São os salários, o desrespeito pelo contrato coletivo de trabalho, a chantagem e as pressões que levam muitos a colocar como última opção ir trabalhar para o sector dos têxteis. Nas confeções as pressões diárias, os ritmos de trabalho e até, em muitas situações, as faltas de respeito são o motivo para alguns trabalhadores qualificadíssimos, que estão há anos nessa profissão, não quererem voltar ao setor se caírem no desemprego. Outras das nossas tarefas é o combate à precariedade, pois se os trabalhadores que entram vão ocupar um trabalho permanente devem ter um vínculo efetivo, e o combate ao assédio moral, que tem vindo a agravar-se nalgumas empresas. E as entidades patronais que não tenham dúvidas: se não agirem pela via do entendimento, do diálogo e do respeito, o sindicato cá estará para denunciar publicamente as práticas de assédio moral.

P- Quais as iniciativas previstas?

R- Como podem verificar no que já mencionei, esta direcção terá um trabalho árduo pela frente. Em setembro teremos reunião de direção e iremos agendar ações concretas.

P- Quais as principais dificuldades do sector têxtil na região?

R- Nos lanifícios, atualmente a preocupação deveria ser a substituição dos trabalhadores com uma vasta experiência profissional que se reformam depois de longuíssimas carreiras contributivas por trabalhadores mais novos, mas com contratos efetivos e condições de trabalho dignas. No vestuário, a principal dificuldade é manter o número de encomendas, pois a maioria das empresas está a trabalhar em pleno, algumas até estão com cargas horárias superiores ao período normal de trabalho. Ainda assim, continuamos a ter duas realidades muito distintas dos lanifícios e do vestuário.

P- Actualmente o STBB tem quantos trabalhadores sindicalizados?

R- O sindicato desenvolve trabalho junto de todos os trabalhadores no distrito. Todos os meses nos deslocamos às empresas e, apesar da redução massiva do número de trabalhadores, continuamos a ter uma base organizada, continuamos a sindicalizar e a ter capacidade de atração dos trabalhadores. Posso afirmar que temos uma taxa de sindicalização superior à média nacional.

P- Quais as principais dificuldades dos trabalhadores deste sector?

R- Como já referi anteriormente, a maior dificuldade deve-se ao facto de não serem respeitados e os salários. As entidades patronais querem transformar o setor numa tabela única, sem categorias profissionais, sem valorização do trabalho, pagar o salário mínimo e terem benefícios atrás de benefícios do Estado e dos fundos comunitários. Temos uma grande luta pela frente pela valorização das categorias profissionais e aumento dos salários. Os trabalhadores sabem que nunca nada nos foi oferecido, temos de conquistar tudo com a nossa intervenção e organização. A nossa luta sempre foi determinante e é ela que nos traz melhores condições de vida. Os trabalhadores sabem que é a intervenção do sindicato, em conjunto com a organização dos trabalhadores nas empresas, que faz a diferença na conquista das reivindicações. O que esta direcção pode dizer a todos os trabalhadores é que continuará a luta que vem de anos.

Perfil:

Presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB)

Idade: 34 anos

Profissão: Operária têxtil

Naturalidade: Carvalhal Formoso (Belmonte)

Currículo: Sindicalizada desde 2002, faz parte da direção do Sindicato Têxtil desde junho de 2006

Livro preferido: Livros sobre a inteligência emocional e comportamento organizacional e “Tear de Tomates”, uma obra que diz respeito ao setor e à história do movimento operário

Filme preferido: Muitos, entre eles “Diamantes de Sangue” (2006)

Hobbies: Correr

Marisa Tavares

Sobre o autor

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