O princípio da Macedónia é a estrutura da salada de atum conhecida entre nós pelo código “russa”. A salada Russa leva uma mistura irracional de legumes, batata, cenoura, tomate, as imperdoáveis ervilhas e seguramente alguns detalhes que fazem o “toque mágico de cada um”. O ovo cozido cortadinho aos bocados, a maionese parecida com a da avó, o milho cozido em lata ou trabalhado cuidadosamente pela cozinheira, criam uma taça de mistura que se come fresca numa tarde de Verão. A salada de atum que pode levar uma macedónia de peixes enlatados como cavala, mas nunca com sardinha. A sardinha não mergulha neste prato e a sua presença transformaria o sabor expectado desta taça fria que chamamos Russa. A salada de atum com uma sardinha torna-se uma coisa que lembra a mosca na sopa, que recorda a drosófila na fruta, que faz corar de inveja o cabelo no creme de marisco. Por esta razão a sardinha enlatada é uma coisa especial, um petisco que tem suas particularidades e pode ser servida com tomate, sem ele, com vinagrete e com azeite. A sardinha fresca é uma festa na grelha e depois sobre uma fatia de broa. O que não pode acontecer é mergulhar com a intensidade que tem, com a profusão de sabor que imana numa maravilhosa salada russa. Isto tudo para dizer que nunca devemos ser, apesar do brilho que temos, da idiossincrasia, a sardinha a estragar o petisco de todos. Há quem não perceba o excesso de ruído próprio, quem não ocupe apenas o seu espaço, quem arrume em dois lugares, quem interrompa uma boa conversa com piadas fáceis, quem atire uma pedrada num post do Facebook. Anda muita sardinha por aí.
Por: Diogo Cabrita