A expressão “plataforma logística” entrou, na Guarda, no vocabulário corrente da generalidade das pessoas. Isso não significa que todos conheçam o seu significado. A maioria das pessoas pensa que se trata de um novo parque industrial. Outras, mais informadas, asseguram que se trata de um parque empresarial. Na verdade uma plataforma logística é uma área delimitada no interior da qual se exercem, por diferentes operadores, todas as actividades relativas ao transporte, à logística e à distribuição de mercadorias, seja num contexto nacional ou internacional.
Porque em Portugal não existe nenhuma plataforma logística temos de olhar para outros países, nomeadamente Espanha, onde existem algumas, para mais facilmente compreendermos aquilo que se pretende fazer na Guarda.
Assim, temos diferentes tipologias de plataformas logísticas de acordo com os objectivos que os seus promotores se propõem e de acordo com as necessidades consideradas.
Optimização logística
No âmbito da actual economia globalizada produziu-se um aumento espectacular na mobilidade das mercadorias, afectando tanto a quantidade dos volumes como as distâncias percorridas. Este incremento de mobilidade provocou a necessidade de contar com infra-estruturas de apoio que permitem uma maior operacionalidade, maior rapidez e a optimização dos processos de distribuição. Os sistemas de informação, soluções multimodais, armazenagem e paletização, gestão por categorias, políticas de qualidade e controlo são alguns dos aspectos que permitem a optimização dos processos logísticos.
A globalização económica impõe um novo contexto logístico que obriga os agentes económicos e sociais a uma nova situação organizativa em que a utilização da intermodalidade é necessária a todos os níveis. Para responder a este repto – uma nova dinâmica económica -, é necessário configurar centros de transporte caracterizados pela modernidade, funcionalidade, efectividade e competitividade partindo de conceitos de serviços integrais. Assim, uma plataforma logística concentra as diversas actividades que conformam a cadeia logística e ao mesmo tempo apostam numa gestão integrada de distribuição e uma administração óptima de armazenamento. Em síntese, poder-se-á dizer que uma plataforma logística é um centro de transportes, acondicionamento de carga e distribuição.
Uma plataforma para o país
A Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial, a aparecer na Guarda, é, pois, um projecto de futuro. Um futuro muito próximo em que a logística passará por grandes transformações que se farão sentir nas relações entre produtores e distribuidores, na evolução dos prestadores de serviços para operadores logísticos, em sistemas de informação e de gestão adequados às soluções adoptadas pelas empresas.
A localização estratégica da Guarda – proximidade da fronteira, eixo Norte-Sul (A23) e eixo fronteira-litoral (A25) – faz da PLIE uma iniciativa de grande interesse para o sector da logística. A importância do projecto não reporta apenas à região da Guarda, mas também ao país pela optimização no apoio à actividade empresarial. Todos os sectores industriais têm fluxos logísticos necessitados de maior operacionalidade. Vejam-se alguns exemplos. A importação e distribuição de automóveis estão concentradas nos parques das marcas (Lisboa ou Porto) a partir de onde os carros são distribuídos para os concessionários distritais. Com a optimização da logística deixa de fazer sentido concentrar o armazenamento de veículos nas centrais das marcas. Este pode ser feito na plataforma logística preparando os veículos para serem enviados directamente para cada um dos concessionários operacionalizando a distribuição por zonas.
O mesmo se passa com outros artigos. Os produtos importados podem chegar em grandes cargas e na PLIE serem armazenados, divididos por clientes ou zonas e enviados por transporte em “grupagem” permitindo uma grande economia dos custos de distribuição. Na exportação sucede algo similar, mas em sentido contrário. Os artigos podem ser recepcionados em pequenos volumes e depois agrupados em grandes cargas. Estas são apenas algumas formas de logística que a PLIE pode vir a adoptar.
A concorrência de Salamanca
O porto seco de Salamanca pode transformar-se num «adversário» ao aparecimento da Plataforma Logística da Guarda. Associado ao centro de transportes de mercadorias e ao parque empresarial agro-alimentar constituem a Zona de Actividades Logísticas que visa afirmar-se como «pólo dinamizador» da economia transfronteiriça no contexto do transporte de mercadorias da faixa Atlântica da Península Ibérica para a Europa.
Assim, foi celebrado em Salamanca um protocolo entre o município de Salamanca, a Junta de Castilla y Léon, a Administração Portuária de Aveiro e a Administração do Porto de Leixões. Este protocolo é o corolário de um processo de aproximação e parceria em projectos iniciado em Novembro de 2001. Segundo o Porto de Aveiro o potencial será «substancialmente valorizado» com esta associação com os espanhóis. O Porto de Aveiro pretende «alargar a sua área de influência a novos mercados».
Com a provável construção da nova linha ferroviária Porto-Aveiro-Salamanca (TGV) a cidade espanhola ganha uma nova centralidade, que os salamantinos querem determinante na relação entre o centro de Portugal e a Europa. O porto seco é um incentivo à intermodalidade marítimo-ferroviária, alternativa ambiental e economicamente mais vantajosa relativamente ao transporte rodoviário.
O envolvimento dos portos marítimos portugueses com o governo da Comunidade castelhana e da autarquia de Salamanca, além das associações empresariais locais, permite antever este projecto como de grade interesse no sector logístico. O “ayuntamiento” de Salamanca pretende nos próximos anos proporcionar à Zona de Actividades Logísticas todas as condições para se afirmar como o mais importante centro de apoio à carga e à distribuição do ocidente peninsular. E para isso conta com a fragilidade da organização logística do lado de cá da fronteira.
Luís Baptista-Martins