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Guarda, capital regional

Editorial

1. Com a instalação das comunidades intermunicipais deu-se um passo importante no reordenamento do território, na descentralização e no desenvolvimento regional. Na verdade, foi um passo regionalizador sem fazer a regionalização. O novo mapa regional, porém, é o resultado de uma regionalização por decreto, mas necessária e que chegou tarde (como regionalista, acredito que se tivesse havido regionalização há 20 anos as assimetrias regionais e o atraso do interior seria menor). As Beiras e Serra da Estrela, descendente da Beira-Serra, que na primeira parte do séc. XX teve vida curta, foi a comunidade possível na união dos concelhos da região. De certa forma, a CIMBSE tem um território muito próximo ao da atual diocese da Guarda (mais Mêda e Fornos de Algodres); em relação ao distrito da Guarda, perde Aguiar da Beira e Vila Nova de Foz Côa. Esta proximidade cultural (e religiosa) deveria dar mais unidade a uma Comunidade que continua a parecer volátil às vontades individuais e ao interesse do momento. As Beiras e Serra da Estrela é o caminho e não se vai andar para trás; a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) ainda faz pouco, e muitas vezes nem se percebe o que faz ou para que serve, mas a sua afirmação será contínua, ainda que lenta, e será a âncora do desenvolvimento da região, o suporte da planificação e investimento público futuro. E, mais cedo que tarde, será a região administrativa por onde irá passar “tudo”. Falta dar-lhe legitimidade democrática, com eleição direta e universal dos dirigentes, e falta-lhe liderança política (por populismo).

A Guarda é a capital da Beiras e Serra da Estrela (a inauguração da sede da CIMBSE vem confirmar a capitalidade da Guarda num processo em desenvolvimento e que não tem volta atrás). A cidade está no centro da região, mas foi de facto uma vitória política de Álvaro Amaro que, enquanto outros escolhiam a vaidade do momento, defendeu o futuro e escolheu apostar na capitalidade regional. Os antigos Paços de Concelho, em plena Praça Velha, no mais central e reverencial espaço de uma cidade com mais de 800 anos de história, vai ser a sala de visitas mas também o ponto de partida para a gestão e desenvolvimento da região.

2. Creio não me equivocar se disser que a “variante à Sequeira” (povoação periférica à cidade da Guarda) foi prometida, inicialmente, por Abílio Curto há mais de 25 anos. Mas se não foi prometida, foi falada, referida como uma necessidade, para retirar trânsito da Avenida de S. Miguel, para haver uma alternativa à ponte ferroviária (única), para melhorar a malha urbana e para diminuir a barreira que divide e separa os dois lados de S. Miguel – o bairro, antiga freguesia, que mais cresceu nos últimos 25 anos em toda a região e onde, como se comprovará no próximo recenseamento, residem cerca de 10 mil pessoas, metade da população da cidade e um quarto da população do concelho da Guarda. Porém, e apesar do crescimento demográfico, de famílias jovens, de muitas crianças ou das empresas aqui instaladas (mesmo depois do encerramento de fábricas como a Delphi ou a Gartêxtil, sedeadas em S. Miguel e que empregaram milhares de pessoas), este é um bairro reiteradamente esquecido. Aqui está a estação ferroviária há mais de cem anos e aqui foi feito o melhor parque urbano da região (há 15 anos), uma intervenção Polis que pretendeu, precisamente, iniciar um caminho de urbanidade e fruição ambiental. Mas nada mais foi feito. Por isso, é motivo de regozijo que depois de muitas promessas haja finalmente um plano de requalificação da zona da Estação, que se aposte na melhoria da mobilidade urbana e que haja uma proposta de execução de uma nova ligação, a sul, dos dois lados da linha (Joaquim Valente em 2009, na tomada de posse para o segundo mandato, deixou uma única promessa para os quatro anos seguintes: a construção da “variante à Sequeira”. Afinal, nem projeto foi feito). Álvaro Amaro conseguiu o que os autarcas socialistas não conseguiram, nem sequer quando o governo era chefiado pelo “amigo” Sócrates, que o Estado (IP) pagasse a ligação à Sequeira e assumisse 75% da requalificação viária da Estação, Treija e Rosmaninhal. Aguarda-se que a sua implementação seja célere e não tenhamos de esperar mais 25 anos, absortos entre estudos e discursos de intenção. Porque quem vive em S. Miguel merece e também tem direito a uma cidade com mobilidade, urbanidade e civilidade.

Luis Baptista-Martins

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