O sr. Nogueira fez-se professor para descobrir que tinha, mesmo, era vocação para sindicalista. Entre ensinar e sindicalizar, não teve dúvidas e, vai daí, ser o mordomo de serviço foi um pulinho. Diz-se de Esquerda, o homem que dá o corpo às balas por professores, assumidamente, de Direita.
Aqui há uns tempos, deu-lhe para perder a agenda e entrou distraído numa cerimónia presidencial comemorativa do 10 de Junho. Claro que provocou um achaque a uma data de gente, com os professores à cabeça, que logo ali rasgaram as vestes e os cartões de associados. Os que nem isso puderam fazer, por não serem associados e por terem estreado farpela nova para o evento, optaram pela sua suspensão de funções por tempo indeterminado. Viu-se assim o sr. Nogueira, esquerdista de gema, acompanhado de outros sindicalistas e demais presidentes de Ordens e Pró Ordens profissionais, direitistas até mais não, no degredo televisivo, radiofónico e de rua. Aquilo durou tanto tempo que, às páginas tantas, esqueceram o sextante político e puseram-se todos a jogar à sueca enquanto esperavam a ordem de mobilizar.
Foi boa escolha, jogar à sueca. Olha se lhes tinha dado para, em vez disso, se porem a congeminar estratégias de defesa dos direitos laborais de quem representavam? Eram gente para obstar à eliminação de subsídios, aos aumentos do horário de trabalho de 35 para 40 horas semanais e outras vilanagens governativas que tais. Ai, não que não eram!
Agora, voltando ao bom do sr. Nogueira, pensando bem, entre o fim do jogo da sueca e a nova mobilização, teve para aí uns bons tempos de solitário degredo… Imagino o que não deve de ter roído as unhas, à espera de recomeçar os diretos nos telejornais das horas de almoço e jantar! Aposto que, por ele, tinha aparecido antes dos enfermeiros, dos médicos, dos polícias, de todos. Aliás, a mim, no lugar dele, até me teria ocorrido inverter a lateralidade. Passar de sinistra a dextra. Só por uma questão de coerência, claro! É que, se bem que nunca tenha sido de descriminações, nem de achar esquisito qualquer coisa só porque sim, não consigo deixar de achar muito esquisito isto de ser sindicalista, de esquerda, duma classe profissional, maioritariamente, de direita. Quer dizer… Ao fim e ao cabo, nem sequer é mais esquisito que ser filiado na Direita com cartão de sócio sindical de Esquerda para além de ser, mais ou menos, consensual que nisto, de lados, é sempre bom estar de bem com deus e com o diabo. Ora, se o sr. Nogueira não tem como saber quando é que não terá de voltar à escola, melhor faria ir-se já endireitando. Porque, pior que aquela divisão de classe, introduzida pela ministra Maria de Lurdes, com a dos professores titulares e os de sem titularidade, só uma má discussão política de esquerda e de direita, na sala dos professores.
Para antes disso, espero que o sr. Nogueira se lembre de esmiuçar a ideia, peregrina, da municipalização do ensino e trate mas é de direcionar todas as energias para aí. Já que nunca fez nada que convencesse, sempre justificaria os vastos tempos de antena que, vai, não vai, lhe concedem.
Por: Fidélia Pissarra