Em marcha lenta e com a mão na buzina desde a rotunda do G até à rotunda da Brigada de Trânsito, na Guarda, foi assim que cerca de 500 automobilistas protestaram contra as portagens na A23 e A25 na tarde de sexta-feira. Os cartazes com recados dirigidos ao Governo também não faltaram porque a luta pelas SCUT está longe de acabar. Doravante serão realizadas, semanalmente, ações idênticas na Beira Interior.
«Tomámos agora mesmo a decisão. Todas as semanas iremos realizar ações deste tipo em várias cidades e localidades da região. Em cada segunda-feira daremos conta à comunicação social onde iremos fazê-la nessa semana», disse Luís Garra, dirigente da União dos Sindicatos de Castelo Branco (USCB), numa conferência de imprensa realizada no final do protesto. E, tendo em conta os últimos desenvolvimentos, foi também decidido «não realizar, para já, a ação em Lisboa» que estava prevista para dia 26, antecipou o dirigente, acrescentando que a deslocação à capital «está na ordem do dia e assim que haja o agendamento da Assembleia da República lá iremos». Do que não há dúvidas é que haverá uma «forte representação» no Parlamento no dia em que for agendada a discussão e votação das propostas de resolução já entregues, garantiu o sindicalista, adiantando que várias autarquias já demonstraram apoio a essa manifestação.
Segundo Luís Veiga, do Movimento dos Empresários pela Subsistência do Interior, das 21 Câmaras Municipais que integram as Comunidades Intermunicipais das Beiras e Serra da Estrela e da Beira Baixa «já recebemos a solidariedade da maior parte», tendo neste momento as confirmações das autarquias do Fundão, Proença-a-Nova, Belmonte, Covilhã e Manteigas. «Esperemos que proximamente as restantes se manifestem e confirmem também a disponibilidade de um autocarro para ir a Lisboa», ambiciona o empresário. Mas como nesta luta todos os esforços são poucos, também as Juntas de Freguesia da região foram convidadas a associar-se ao protesto: «O que quer dizer que, eventualmente, ultrapassaremos o número de 21 autocarros», acredita Luís Veiga, para quem o Governo «está perfeitamente enganado e tem que nos ouvir».
O empresário alerta que as portagens são um «prejuízo enorme para a região» e neste momento há empresas instaladas no Parque Industrial do Tortosendo que «estão a refletir seriamente se vão manter-se» na região. «A matéria prima não é da região e o grande mercado também não está aqui. O escoamento é via marítima e área, pelo que estão a pensar deslocalizar-se», alerta Luís Veiga, acrescentando que se isso acontecer «são várias centenas de postos de trabalho eliminados e é uma crise económico-social que vai aparecer na Cova da Beira, nomeadamente na Covilhã».
Abolição das portagens com impacto «muito significativo» nas contas públicas
À margem da inauguração da residência de estudantes da Fundação João Bento Raimundo, na Guarda, o ministro do Planeamento e das Infraestruturas reconheceu que a redução de 15 por cento nos preços das portagens, feita em agosto de 2016, «foi significativa» e «já permitiu poupar dezenas de milhões de euros aos utentes». Contudo, a sua abolição para já está descartada, pois teria um impacto «muito significativo» nas contas públicas.
Ainda assim, Pedro Marques garante que o Governo está a analisar os resultados da política que implementou, «sempre com a maior atenção possível à situação das empresas e do emprego, e naturalmente ao transporte de mercadorias no contexto destas regiões». O governante declarou ainda que os movimentos de utentes terão que reconhecer que o Governo fez a primeira «alteração importante com a redução das portagens já realizada» e está a analisar «o que se pode fazer para reforçar as políticas que favoreçam a mobilidade das empresas e do emprego» no interior.
Testemunhos de quem sente na pele o peso das portagens
Quatro deslocações por semana são o suficiente para Carlos Canhoto, que dá aulas na Escola Superior de Artes Aplicadas no Politécnico de Castelo Branco e no Conservatório, sentir «alguma repercussão» no seu orçamento. «A opção da estrada nacional acaba por ser muito mais lenta e mais arriscada», afirma o professor, para quem a autoestrada não devia ter custos para o utilizador. «Ela já foi paga muitas vezes e continua a ser através do IRS, do IVA, de todos os impostos sobre a circulação e depois ainda é paga 4/5/6 vezes pelos mesmos utilizadores que são, no fundo, os trabalhadores que têm que utilizar o automóvel para se deslocar e os pequenos empresários», lamenta Carlos Canhoto, acrescentando que «não há alternativas». «A autoestrada foi construída porque era necessária e, portanto, é um bem público que não tem que ser portajado», considera.
Da mesma opinião partilha Honorato Robalo, cujos pais moram numa freguesia contígua à Guarda e se antes, para os visitar, podia usar a autoestrada sem custos, hoje paga dois euros por duas viagens. «Quando nos pedem proximidade com as pessoas que estão isoladas no mundo rural a realidade é que tenho que contornar e fazer mais sete quilómetros», exemplifica o enfermeiro, alertando para o estado de degradação em que se encontra a EN18.
Sara Guterres
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