O Hotel Turismo da Guarda foi vendido em 2011 ao Turismo de Portugal para ser recuperado e transformado em hotel de charme com escola de hotelaria. Então, o emblemático complexo hoteleiro encerrou e não mais abriu as portas. Em 2013, a reabertura da unidade foi a bandeira de Álvaro Amaro que prometeu abri-lo pouco depois de ganhar as eleições autárquicas. Várias tentativas e cinco anos depois, ou quase, continua encerrado. Em maio, de 2017, a secretária de Estado do Turismo anunciou que a requalificação do Hotel Turismo seria enquadrada (apoiada) pelo programa Revive. Mas a verdade é que, depois dos muitos atrasos em todo o processo e sete anos após o negócio absurdo da Câmara da Guarda (então presidida por Joaquim Valente) com o Turismo de Portugal, o Hotel continua fechado e sem previsão de abertura.
Nesta edição anunciamos a decisão que se aguardava desde maio passado: a Secretaria de Estado de Turismo enviou para as Finanças a promulgação da entrega da reabilitação do Hotel Turismo da Guarda à única empresa que se candidatou ao concurso de requalificação e exploração: a Manuel Rodrigues Gouveia, SA.
Portugal foi descoberto pelos turistas do mundo. Entre os conflitos e atentados no médio oriente, norte de África ou Turquia, a segurança e um conjunto de sucessos de expressão internacional, conjugaram-se para que Portugal passasse a ser um destino de eleição de milhares de turistas das mais diversas proveniências. E se Lisboa passou a ser o destino de eleição internacional, todo o país registou um extraordinário crescimento.
No contexto do grande crescimento do turismo em Portugal, publicámos na edição de 4 de janeiro os dados, surpreendentes, sobre as dormidas na região (Beiras e Serra da Estrela). De acordo com o INE, a Covilhã é o concelho com mais dormidas registadas (154 mil) e também com maior crescimento de visitante (entre 2015 e 2016 cresceu mais de 20%), seguido da Guarda com 56 mil (teve um crescimento residual entre 2015 e 2016 de 2%). A A23 transferiu as portas de entrada da Serra da Estrela da Guarda e Seia para a Covilhã e o Fundão (que é o terceiro concelho com mais turistas da região e o segundo com maior crescimento entre 2015 e 2016, cerca de 20%). A posição geográfica da Guarda deixou de ser uma vantagem, para passar a ser uma dificuldade (por culpa de mais um erro estratégico do executivo de Valente: o abandono definitivo da construção da chamada “estrada verde” que permitiria a ligação da Guarda ao planalto central da Serra da Estrela que é a âncora turística da região). E, mesmo não tendo dúvidas do esforço para contornar as diversas dificuldades, a Guarda está neste momento fora das principais rotas turísticas ao interior do país, quase excluída dos caminhos à Serra da Estrela e sem argumentos hoteleiros que contribuam para dinamizar e aproveitar os novos fluxos turístico (e quando se fala de turismo a sério, fala-se de aeroportos… e a região não tem aeroporto…). Hoje, não basta ter um ex-libris como a Sé Catedral ou um centro histórico de origem medieval, é preciso ter unidades hoteleiras de excelência, gastronomia frondosa e oferta diferenciada, excêntrica e qualificada. O “velho” Hotel Turismo faz falta à cidade e à região, enquanto hotel urbano, moderno e espaço de referência (não o hotel que nos últimos anos se foi “arrastando” aberto, mas aquela esplendorosa unidade, carregada de glamour e luxuria, que nos anos 50 e 60 chegou a estar entre os mais caros e elitistas do país). O “novo” Hotel Turismo da Guarda terá de ser tudo isso. E terá de contribuir para que a Guarda seja um destino em si mesmo, muito para além do contexto regional (ver o exemplo das Casas do Côro, que é um destino em si, cujo sucesso é genuíno e pouco tem a ver com “as riquezas” da região). A Guarda tem de definir uma nova estratégia de afirmação no mundo novo do turismo, e o Hotel Turismo será um expoente natural, que chega tarde, mas quando chegar terá de fazer a diferença… Vale mais tarde do que nunca; que seja em breve.
Luis Baptista-Martins