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O PER do PSD

O PSD vai iniciar um novo ciclo político. E, por arrasto, também a oposição e o espectro político nacional vão viver uma fase de reajustamento. Porque a reaproximação do PSD ao centro acabará por aproximar os sociais-democratas do PS e, como consequência, as diferenças no seio da geringonça, já agravadas pelo mau resultado autárquico do PCP, ficarão ainda mais expostas.

Falta saber como vai o PSD reposicionar-se. Sem diabo ao virar da esquina não dobrada, Rui Rio terá a dura tarefa de definir um novo rumo para um partido que, apesar de ter a maior representação parlamentar, está num PER (período de erosão em curso). Mais do que conquistar uma maioria absoluta ou vencer eleições, Rio tem de suster essa erosão.

O panorama é adverso e a vitória (em coligação) nas legislativas de 2015 tende a distorcer a realidade. Além das enormes derrotas consecutivas nas duas últimas eleições autárquicas terem corroído a implantação local de um partido tradicionalmente autárquico, desde 1995 o PSD governou durante apenas sete anos. Sempre coligado ao CDS.

Expurgando a votação do CDS nas últimas eleições gerais, o PSD teria alcançado uma votação muito próxima dos 30%. E as sondagens mostram consistentemente o PSD muito aquém desse patamar. Como sustenta o professor Nuno Garoupa, o PSD não corre o risco de desaparecer, mas é real o risco de se tornar num partido médio, deixando o PS como única grande força nacional. Foi isso que aconteceu ao SPD na Alemanha.

O primeiro passo passa por mudar “este” PSD. Um novo PSD tem de começar por se afirmar enquanto real alternativa política. Para o ser não terá de criticar tudo quanto o Governo fizer ou o PS defender. Precisará convergir quando a ética da responsabilidade o exigir e divergir sempre que o imperativo do interesse geral o exija. O discurso de Rio aponta para um homem capaz de conciliar estas premissas aparentemente contraditórias. O problema é que, muitas vezes, na prática a teoria é outra.

Por outro lado, Rio precisa aprimorar a sua capacidade – e a do partido – para passar com maior eficácia uma mensagem alternativa. A de que é possível fazer diferente, dizendo como. Aí, dado o antagonismo de há muito cultivado face à comunicação social, o presidente eleito do PSD terá duas vias possíveis: ou recorre com eficácia a meios não tradicionais de comunicação ou altera o seu perfil de relacionamento com os media. O cenário ideal passa pela conciliação de ambas.

Todavia, há diversos entraves, a começar em casa. Marques Mendes disse que a vitória de Rio mostrou a vontade de mudança no PSD – constatação feita já depois de conhecido o resultado final. Mas a proximidade entre Rio e Santana, e a recuperação por este empreendida, apontam para um ímpeto de mudança pouco evidente. O que sugere que Rio poderá ter dificuldades em unir o partido em torno de uma ideia comum.

O mais importante será mesmo encontrar essa ideia e torná-la mobilizadora. Se o conseguir, Rio verá reforçadas a perspetiva de vitórias e as possibilidades de participar ou influenciar a governação, os elementos determinantes para assegurar a unidade do partido. Sem isso, o PER consuma-se.

Por: David Santiago

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