“Eu, abaixo assinado, juro que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”. Foi isto que disse Durão Barroso, de mão estendida sobre a Constituição da República Portuguesa, quando foi empossado como primeiro-ministro. Atrás dele tinha uma campanha eleitoral baseada no défice e na fuga de António Guterres perante as dificuldades. Para reanimar a economia, apesar do défice que proclamava ser superior a quatro por cento do PIB, prometia um “choque fiscal” que iria permitir respirar às empresas e aos particulares. Sucederam duas coisas: verificou-se que o défice, afinal, não era tão alto; Durão Barroso, mesmo assim, aumentou os impostos em vez de os baixar (o IVA subiu para 19 por cento). Como justificação para o incumprimento da promessa … apresentou o défice (afinal mais baixo do que ele pensava) herdado dos socialistas!
Sabe-se que Durão Barroso tem uma relação complicada, embora imaginativa, com a verdade. Tem a seu favor o conhecimento de alguns factos importantes, por exemplo que a memória do eleitorado é curta e que a distância permite manipular, ou ao menos lançar a dúvida, sobre os acontecimentos ou as suas circunstâncias. Acontece também que em Portugal não existe uma cultura de punição da mentira.
A meio da semana que passou disse Durão Barroso que não era sequer candidato ao lugar de presidente da Comissão da União Europeia. Sabendo-se como as coisas funcionam a este nível, há pelo menos que duvidar dessa afirmação: ou na União Europeia são todos incompetentes e irresponsáveis, ou então já estaria tudo decidido. Quando o “Guardian” publica uma fuga de informação que apontava para Durão Barroso, já este teria que ter revelado a sua absoluta disponibilidade para o cargo. Aliás, bem vistas as coisas, já Durão Barroso devia ser candidato quando ainda fingia fazer campanha por António Vitorino.
Regressemos ao juramento de Durão Barroso. O país encontra-se numa grave crise, agravada pelo seu mau governo, que castigou com sacrifícios afinal inúteis as empresas e os particulares. A retoma não arranca, o choque fiscal não chega nem chegará, e que faz o nosso primeiro-ministro? Foge para um emprego melhor, põe os seus interesses pessoais à frente do compromisso que tinha assumido perante o país. É isto, para ele, lealdade?
Diz agora o PSD que Durão Barroso, como presidente da Comissão Europeia, irá ser muito útil para Portugal. Vamos agora exportar a nacionalíssima “cunha” para a Europa? Em detrimento de quem irá ser Portugal favorecido? Não deveria o presidente da Comissão Europeia ser absolutamente isento, sobretudo em assuntos que envolvam o seu próprio país? Mas que merda é esta?
Por: António Ferreira