É assegurando desde já como desejos maiores saúde e paz para todos que elejo também para o ano 2018 o sentimento de solidariedade como um bem maior que gostaria de ver potenciado na nossa sociedade.
Dito isto, e correspondendo à proposta que me foi sugerida por este jornal, passo a enumerar o que não gostaria de ver acontecer na região no ano que agora começa, sugerindo em alternativa aquelas que são algumas das minhas expetativas para 2018.
Não gostaria que em 2018 o interior do nosso país continuasse no esquecimento das políticas nacionais com notório abandono do território e preocupante envelhecimento da população. Nesse sentido, as minhas expetativas são a verdadeira valorização do interior através de medidas de descentralização dos serviços públicos, abolição das portagens, discriminação positiva com incentivos fiscais, mais emprego, reflorestação da área ardida com árvores autóctones, valorização dos produtos endógenos, potenciação do turismo e do empreendedorismo e implementação de medidas de incentivo à natalidade.
Não gostaria que em 2018 se mantivesse o processo de deterioração dos serviços de saúde com notórias e graves falhas de resposta às necessidades da população do distrito da Guarda. Tenho, por isso, como expetativas uma melhor e mais capacitada gestão da Unidade Local de Saúde da Guarda, capaz de exigir e atrair os recursos humanos mínimos necessários, prioritariamente enfermeiros e médicos e capaz de melhorar a rentabilidade da capacidade estrutural hospitalar instalada da ULS – hospital da Guarda e hospital de Seia, potenciando uma maior produtividade cirúrgica e melhorando a resposta em tempo útil às necessidades de saúde das populações. Mas, porque a saúde é um bem maior, gostaria também de assistir à otimização da rede de cuidados de saúde primários, assegurando assim a boa continuidade dos cuidados, da maior importância para uma população maioritariamente envelhecida.
Não gostaria que em 2018 fosse construído na minha cidade mais um centro escolar, tendo como expetativas um processo de remodelação das escolas do ensino básico existentes, dando-lhes mais conforto e as melhores condições estruturais e funcionais possíveis. Tudo para proporcionar às crianças uma maior proximidade a casa e ao seu bairro, cultivando um ambiente mais familiar, de mais próxima relação com professores, auxiliares educativos e colegas, mais propício a “trabalhar” comportamentos e a formar boas pessoas e bons cidadãos do futuro.
Não gostaria que em 2018 a minha cidade continue a ser adulterada com obras de gosto dúbio que, em nome da “obra feita”, plantam estruturas de ferro e cimento em vez de árvores. As minhas expetativas são que as desproporcionadas e horrendas colunas da entrada do parque da cidade possam adquirir alguma cor e utilidade, sendo transformadas em colunas de treino de escalada, bem em consonância com uma cidade de montanha. E que no mesmo parque, onde sempre existiu um recanto especial para as crianças, estas não sejam apenas brindadas com a estátua a si alusiva, que ali ainda resiste, mas sim, com um pequeno parque infantil colorido e divertido.
Finalizando e lembrando que é para breve, gostaria que em 2018 os festejos carnavalescos na nossa cidade voltassem a ter a identidade cultural que o “Julgamento do Galo” exige e que nos últimos anos foi cruelmente adulterada. E proponho que os culpados sejam também eles julgados e queimados no largo da Sé. Terminando assim este desafio com algum humor, acabo rimando e pedindo a todos: sejam felizes por favor.
Nércio Marques*
* Enfermeiro e dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses