Um fenómeno contemporâneo é o do incómodo. Outro fenómeno interessante é o da importância que se dão. Juntos estes dois malefícios do tempo presente e futuro convocam à mesa da litigância muito mal-estar e muita labilidade emocional. “Não admito que”. “Não lhe permito isso”. Assim se catapultam inúmeras conversas ao terreno pantanoso do diálogo quente, truculento, insano. Tenho visto que o sorriso não está na maior parte dos atendimentos públicos ou privados e hoje inúmeras regras de educação se perderam. Os meninos nos autocarros não se levantam para sentar pessoas de bengala. Ajudar um idoso no passeio é raridade. A petulância de alguns recentes formados e novos doutores só pode raiar a má educação. Todos se acham muito importantes, donos de incansáveis direitos. A culpa é sempre dos outros e os seus exageros quando estacionam onde não devem, conduzem aos “s” com o telemóvel na mão, impedem a passagem de outros, bufam porque esperam, insultam porque o atendimento é demorado, empurram para entrar primeiro, nunca está mal. Uma elegância, uma simpatia, uma delicadeza é de uma raridade tão extrema que me surpreende sobre o futuro. A intolerância deriva da enorme importância que cada um se atribui. Todos são filhos de uma ausência de regras, do desconhecimento de hierarquias, da destruição da pirâmide do poder. Claro que parte disto vem do absentismo de quem devia governar e não está. De quem devia exercer a vigilância e é cego surdo e mudo. Os maus exemplos do topo acarretam estes dois pilares negativos do futuro onde modéstia, tempero, senso andam de férias prolongadas.
Por: Diogo Cabrita