Arquivo

Galeno de Pérgamo

Mitocôndrias e Quasares

A história da ciência médica europeia reúne muitos nomes de destacados cientistas. Sem dúvida, Galeno figura entre os primeiros da lista, pois os seus ensinamentos foram dominantes durante muitíssimo tempo.

Galeno escreveu o “Methodo medendi”, sobre a arte da cura, que foi o paradigma do mundo médico no decurso de quinze séculos. Entre os seus contributos, a literatura médica menciona o ter descoberto que o funcionamento da voz é controlado pelo cérebro, que a espinal medula comanda os músculos, que o sangue circula pelas artérias, que existem as válvulas do coração e as funções renais, e também demonstrou que a preparação de fármacos devia obedecer a procedimentos rigorosos destinados à sua conservação.

Este médico, nascido em Pérgamo, na Grécia, no ano 130 e, falecido por volta de 216, em Roma, cultivou a sua mente desde muito tenra idade e, uma vez que descobriu a obra de Hipócrates de Cos, nunca a abandonou. A lenda relata que num sonho do pai apareceu o deus da medicina, Asclépio, que vaticinou o destino de Galeno.

No tempo de Marco Aurélio II chegou a integrar o mundo da corte, onde estudou a peste antonina e dissecou animais, pois na Roma antiga não era permitida a dissecação de cadáveres humanos, o que conduziu a ideias um pouco distorcidas. Baseou a sua fisiologia no pensamento aristotélico em relação à natureza e, no de Platão, no que respeita ao princípio regedor da alma, a psyche, formado por três dimensões: uma que se aloja no cérebro, outra no fígado e a terceira no coração.

A partir desse postulado, existem três espíritos, e cada um corresponde a uma classe de alma: o vital, situado na região torácica, tem o coração e os pulmões como principais órgãos e, para o mundo antigo, esse espírito chegava através do sistema arterial, junto com o calor inato do coração, a todo o organismo e determinava a morte ou não de uma pessoa; o vegetativo ou natural, que corresponde aos órgãos da zona abdominal, e o animal, dominante na região cerebral, que influenciava a personalidade e se deslocava para o resto do corpo através dos nervos.

Esta personalidade da ciência médica ganhou popularidade também por recorrer a muitas plantas a que atribuía propriedades curativas, para extrair delas as substâncias que lhe serviam para preparar medicamentos. E mais, a estas misturas deve-se a atual denominação “galénica” que alude à ciência da preparação de medicamentos. Para fazermos uma ideia, basta pensar que um preparado de Galeno podia chegar a conter mais de 60 ingredientes. Entre eles, figurava um com pretensão de antídoto para qualquer doença. Este chamava-se teriaga e o ódio figurava entre os seus principais componentes. O curioso é que o mesmo preparado vigorou até ao início do século XIX.

Os princípios, a obra e os medicamentos de Galeno perduraram vários séculos. No Renascimento, as suas bases começaram a ser questionadas a partir das ideias renovadoras do anatomista Vesalio.

Por: António Costa

Comentários dos nossos leitores
Juvenal Nunes jassasto@gmail.com
Comentário:
Artigo muito interessante, até pelas informações que nos dá sobre os primórdios da Medicina. Interessante, também, verificar que a palavra teriaga faz parte do nosso vocabulário com a significação, por extensão, de remédio caseiro e de panaceia, isto é, remédio para todos os males. Juvenal Nunes
 

Sobre o autor

Leave a Reply