Viveu-se um momento histórico na passada quarta-feira no Sabugal quando a tuneladora completou finalmente a ligação entre as barragens da Sra. da Graça e da Meimoa. À falta de champanhe, as palmas dos trabalhadores selaram um acontecimento que vai tornar possível o primeiro transvase português, entre a bacia do Douro-Côa e a do Tejo-Zêzere, mas também a conclusão de um circuito hidráulico com mais de quatro quilómetros que irá permitir concretizar o tão esperado regadio da Cova da Beira. Num futuro cada vez mais próximo, 5.800 explorações agrícolas dos concelhos da Covilhã, Fundão, Penamacor e Sabugal beneficiarão da água transportada em 58 quilómetros de condutas. O Governo estima que todo o projecto poderá estar concluído até 2010.
Com um diâmetro de 13,60 metros, o circuito hidráulico, orçado em 14,2 milhões de euros e cuja conclusão está prevista para Dezembro de 2005, suportará um caudal variável de água que irá regar 14.400 hectares de terras, num total de 17 mil prédios. Uma benesse que contribuirá para um melhor aproveitamento agrícola da zona, o aparecimento de novas culturas e o incremento da actividade pecuária. Mas esta realidade só começará a ganhar corpo para lá de 2007, data prevista para o início da construção dos blocos de rega nos concelhos do Fundão e Covilhã. O investimento global deste empreendimento ronda os 105 milhões de euros e garantirá ainda o abastecimento público de água ao Sabugal, Almeida, Pinhel, Penamacor e Fundão. Além destas duas vertentes, o sistema está também vocacionado para a produção de energia eléctrica através da construção de uma central mini-hídrica, com capacidade para produzir anualmente 34 milhões gwh, resultante de uma queda de 200 metros proporcionada pela transferência de água entre as duas albufeiras. Esta obra foi igualmente concessionada na semana passada e apadrinhada por Bianchi de Aguiar, secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, que na cerimónia destacou a importância do regadio da Cova da Beira, projecto assumido «integralmente desde 1994 pelo Ministério da Agricultura, mas que quando concluído será entregue aos agricultores», adiantou.
O governante anunciou, por outro lado, que o contrato de concessão e exploração vai ser atribuído à Associação de Beneficiários da Cova da Beira, na sequência da assinatura do contrato de concessão do domínio público estabelecido entre o Instituto da Água (Inag) e o Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHa). Uma novidade que agradou ao presidente da Assembleia Geral daquele organismo que agrupa mais de 820 utilizadores do futuro regadio. Sérgio Castanheira considera ser esta uma forma de «minimizar os custos desta obra». Já Bianchi de Aguiar lembrou que o empreendimento «é o segundo maior estaleiro a seguir ao Alqueva» e destacou o facto de terem sido tomadas todas as precauções para evitar problemas ambientais no ecossistema da Malcata. Nesse sentido, foi instalado um sistema de protecção e repulsão das espécies na tomada de água do túnel de forma a minimizar a possibilidade de transferência da albufeira do Sabugal para a Meimoa. Por outro lado, e dado que a saída a jusante do túnel se localiza no Parque Natural da Serra da Malcata, os inertes extraídos das obras de escavação foram depositados a montante e utilizados como camada de revestimento de caminhos agrícolas e rurais das freguesias próximas de concelhos limítrofes. O circuito hidráulico só entrará em funcionamento com a implementação dos mecanismos de protecção e repulsão das espécies piscícolas, que conjuga vários modelos de grelas e comportas com a aplicação de ar comprimido e emissores de infra-sons. Para o director do IDRHa, Campeã da Mota, este conjunto de medidas ambientais, inovador nas albufeiras portuguesas, fez com que nenhuma candidatura se apresentasse ao concurso público internacional, motivo pelo qual o IDRHa está agora «a desenvolver uma consulta a empresas do Canadá e de Inglaterra, para proceder a ajuste directo para a concretização deste projecto».
Luis Martins