O debate público promovido segunda-feira à noite pelo regressado Movimento Cívico do Distrito da Guarda para debater as acessibilidades foi muito pouco concorrido. Desde logo, primaram pela ausência a grande maioria dos autarcas do distrito, excepção feita a Maria do Carmo Borges, bem como a generalidade dos políticos, sobretudo do PSD, já para não falar da sociedade civil, também ela retida porventura nalguma esplanada. Sem grandes novidades a nível rodoviário, o encontro ficou apesar de tudo marcado pela tomada de posição de Arménio Matias, presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Transportes Ferroviários (ADFER), que defendeu uma estação de comboios de alta velocidade entre Celorico da Beira e Vila Franca das Naves e apelou à mobilização do distrito para a conseguir.
«A resolução do Conselho de Ministros consigna algumas estações por onde a rede de alta velocidade tem que passar obrigatoriamente, mas não exclui outras que possam e devem ser defendidas não só pelo distrito da Guarda, como também por Castelo Branco ou mesmo algumas localidades espanholas», disse o antigo administrador da CP, cuja intervenção era bastante aguardada dada a sua recente tomada de posição favorável à Guarda sobre esta matéria. Arménio Matias garante que a alta velocidade é «crucial» para o distrito, tendo mesmo aconselhado políticos e forças vivas regionais a tomar uma «posição forte para que a Guarda “agarre” esta oportunidade de desenvolvimento e de criação de uma nova centralidade regional». A sua tese baseia-se no modelo japonês – em média a linha de alta velocidade tem estações de 50 em 50 quilómetros – onde um comboio só pára nas estações intermédias enquanto outro tem mais paragens e circula com maior frequência. De resto, o especialista recordou que o traçado português da alta velocidade foi apenas delineado para servir os aeroportos, portos, áreas metropolitanas, a zona turística do Algarve e as cidades espanholas de Salamanca, Badajoz e Huelva, onde já existem estações de RAVE com ligação a Madrid.
Quanto ao local onde deveria ser construída a tal estação, Arménio Matias sugeriu a zona do distrito de «maior confluência e acessibilidade». Isto é, uma localização de «grande centralidade» em relação às auto-estradas A23 e A25, bem como às linhas ferroviárias já existentes. «Tem que ser o ponto onde mais facilmente se chega vindo de qualquer zona do interior raiano», adianta, arriscando uma zona entre Celorico da Beira e Vila Franca das Naves. Uma opinião que agradou a Maria do Carmo, pese embora a autarca da Guarda seja mais receptiva a uma estação «a caminho da fronteira», mais concretamente nas proximidades do Alto de Leomil para onde se pondera a construção de um aeródromo regional. Menos impacto teve a intervenção de António Martins, director da Direcção de Estradas do distrito da Guarda. O responsável fez o ponto da situação dos investimentos em curso e das intervenções projectadas ou a projectar para o distrito, mas escusou-se a abordar a introdução de portagens na A25 alegando que o Instituto de Estradas de Portugal (IEP) ainda não tem uma posição oficial sobre essa matéria. Contudo, isso não o impediu de referir que o valor das rendas a pagar aos concessionários das Scut’s em 2008 «não permitirá o funcionamento do IEP». Em jeito de resposta, Maria do Carmo avisou que a Guarda sentir-se-á «lesada se houver portagens na A25, porque teremos que as pagar duas vezes. Uma através do Orçamento de Estado e outra do nosso bolso», denunciou.
Luis Martins