O debate sobre o futuro da Europa não pode esquecer ou minimizar a sua dimensão social. Um ponto central da nossa vida em sociedade é a justiça na repartição do rendimento e nos direitos sociais que protejam e melhorem as condições de trabalho, incluindo a conciliação entre trabalho e vida privada. Neste contexto, a Comissão Europeia promoveu este mês duas importantes iniciativas.
No dia 17 de novembro realizou-se a Cimeira Social para o Emprego Justo e o Crescimento, em Gotemburgo (Suécia), onde os líderes políticos europeus, os parceiros sociais e a sociedade civil consagraram os valores e as prioridades essenciais para o futuro da União Europeia. A primeira iniciativa diz respeito à proclamação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais que define princípios e direitos em torno da igualdade de oportunidades e do acesso ao mercado de trabalho, às condições de trabalho justas e à inclusão e proteção social.
A segunda iniciativa diz respeito à Semana Europeia da Formação Profissional, organizada pela Comissão Europeia. Esta iniciativa foi uma montra do melhor que se faz na Europa em matéria de ensino e formação profissionais. Em toda a Europa foram mais de 1.000 os eventos relativos ao ensino e formação profissionais, com cerca de 30 organizados em Portugal.
O ensino e a formação profissionais abrem portas a carreiras interessantes – desde realizadores de cinema a criadores de moda, passando por pilotos e assistentes médicos. Na verdade, os dados mostram que, na União Europeia, a taxa de jovens que encontram emprego ao fim de três anos é mais alta para os diplomados do ensino profissional do que para os do ensino geral. Sugerem também que nos países onde a formação profissional é mais valorizada, as taxas de desemprego dos jovens são mais baixas.
A União Europeia tem sido capaz de responder a muitos dos desafios socioeconómicos dos últimos anos. Prova disso são os mais de 8 milhões de empregos criados nos últimos três anos, a descida da taxa de desemprego para os valores mais baixos em nove anos e o crescimento económico na UE com taxas superiores a 2%. Temos sociedades mais inclusivas com sistemas de proteção social que ajudaram a ultrapassar a crise económica.
Mas as necessidades de mudanças não param e temos de nos adaptar ainda mais rapidamente. Há agora mais adultos com idade superior a 65 anos do que crianças com menos de 14. O futuro da Europa passará, certamente, por criar condições para as novas oportunidades e necessidades emergentes da globalização, da digitalização e do envelhecimento. Cerca de 40% dos empregadores afirmam que não conseguem encontrar pessoas com as competências de que precisam e que a grande maioria das crianças que estão hoje a entrar no ensino básico terão empregos que não foram ainda criados.
Para continuarmos a progredir de forma sustentável, precisamos de continuar a trabalhar na componente social. A reflexão sobre o futuro da União é também uma reflexão sobre as respostas a dar aos desafios sociais emergentes, nomeadamente, ao desafio do novo mundo do trabalho criado com a digitalização.
Por: Sofia Colares Alves
* Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal