Termina amanhã, num misto de euforia e frustração, a 23ª Conferência da ONU sobre o clima.
Foram duas semanas de intenso debate onde a presidência das ilhas Fiji, ameaçadas pela subida do nível das águas do Pacífico, parecem dizer ao mundo que cumpram as metas do acordo de Paris e os objetivos de reduzir as emissões limitando assim a subida da temperatura do planeta.
A temperatura do globo está acima de 1ºC mais quente. Consequências disto:
tufões, tornados e furacões no Atlântico e no Pacifico. Incêndios florestais como não há memória onde as temperaturas excessivamente altas e a humidade extremamente baixa são uma constante. O nosso país não escapou à regra e cerca de 80% do território está a ser afetado por seca extrema. As albufeiras estão entre os 10 e os 25% da sua capacidade. E nem é preciso ir a Viseu olhar a barragem de Fagilde. Convido-o, caro leitor, a dar uma vista de olhos à nossa barragem do Caldeirão. Até mete dó.
A concentração de dióxido de carbono pode já ter atingido as 400 partes por milhão. Sabe-se agora que os habitantes de Nova Deli, mesmo com a utilização de máscara, inalam o equivalente ao fumo de mais de dois maços de tabaco por dia.
Neste pretenso esforço teórico de cortar as emissões poluentes damos conta que os Estados Unidos, maior produtor de combustíveis fósseis e primeiro emissor de gases com efeito de estufa per capita, com todos os desaires de Trump, retiraram-se do Acordo de Paris. Que as maiores petrolíferas, empresas energéticas, agrícolas, industriais e respetivos financiadores estão presentes nesta COP 23 fazendo o seu interesseiro jogo de bastidores, percebendo que a exploração de petróleo em 2016 quase duplicou.
Em Bona foi também chamada a atenção para a utilização do carvão tendo os ativistas alemães encerrado (temporariamente) uma mina a cerca de 50km do local onde decorre a cimeira. O carvão é responsável por cerca de 30% das emissões. Recorde-se que só em Portugal 20% dos gases poluentes são provenientes de duas centrais termoelétricas a carvão (Sines e Pego, no concelho de Abrantes).
A União Europeia faz sistemática questão de aprovar (hipocritamente) algumas diretrizes que os Estados-membros raramente cumprem e onde se percebe a pressão das petrolíferas nos passeios permanentes por todos os lobistas nos corredores de Bruxelas, sucedendo-se reuniões atrás de reuniões com o comissário de energia, Miguel Cañete, acusado de defender as petrolíferas, coadjuvado pelo vice-presidente para a energia, Maros Sefcovic, não conseguindo travar o investimento do gás fóssil, que é tão poluente como o carvão, preparando-se para financiar a Shell, a BP, a General Electric, entre outras, para montarem uma enorme rede de gasodutos.
As regras que irão sair da 23ª Conferência da ONU estão a ser negociadas por alguns ideólogos/sentimentalistas da estética ambiental e também por uma corja de ordinários sabotadores/interesseiros das multinacionais que se estão borrifando para o futuro da humanidade.
Nesta reta final da COP 23, cujo objetivo é estabelecer “o livro das regras”, verifica-se que existem, persistem e subsistem enormes discordâncias entre países desenvolvidos e em via de desenvolvimento, entre os mais e os menos poluidores, na informação prestada por cada um deles, no esforço em cortar emissões, no financiamento de projetos tendo por base combustíveis fósseis pelo Banco Mundial, pelo Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, pelo Banco de Desenvolvimento Asiático etc. etc. etc. e, mesmo com toda a reflexão e perceção de efetiva redução de emissões, a terra, já está condenada, restando apenas o bom senso na troca da energia suja pelas presentes e futuras energias alternativas, todas elas consideradas limpas, não poluentes, purificando o planeta para que a meta de 2050 seja efetivamente atingida.
Os 200 países reunidos em Bona, independentemente da boa vontade manifestada, têm de obrigar-se política e coletivamente a contrariar todo o jogo das multinacionais (o que é efetivamente difícil, mas não de todo impossível) e tal qual afirma o poeta “o mundo pula e avança”, as energias alternativas estão aí e já são uma realidade, pois se assim não for o mundo, o nosso mundo, irá desaparecer em poucas centenas de anos.
A nossa geração está a sofrer as graves consequências do aquecimento global e cabe-nos a todos estancar isto e criar, recriando as melhores condições para os vindouros. Por uma questão de justiça. Da mais elementar justiça. Pela justiça climática.
Por: Albino Bárbara