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Portugal Radical

Em meados de novembro o abastecimento de água a Viseu e Mangualde é realizado por camiões cisterna e a chuva teima em não cair em quantidade que alivie os velhos do Restelo que acreditam não ser sensata a rega da nova vaga de amores-perfeitos e alcatrão, numa altura em que a Barragem do Caldeirão se apresenta a 30% da sua capacidade. É viver no limite, pisando o risco e sem planos de contingência conhecidos e amplamente divulgados. Uma revisitação dos Verões dos anos 80, de água com hora marcada e oportunidades para fazer Water Summits no descarregador do camião cisterna.

Falta a água mas não falta o emprego. Está mesmo tão bom que até projetos relevantes são chumbados ou metidos na gaveta por manifesto clima de sobre aquecimento local e que é percetível pelo intenso movimento na Praça Luís de Camões. Tão bom que nem se compreende porque surge um “Movimento pelo Interior e em nome da coesão”. Já que aquilo que está ao alcance dos municípios do interior para fixação de pessoas e emprego ainda não está esgotado seria interessante, antes de pedir mais ao Orçamento de Estado, ver descer o IMI, a derrama, a devolução do IRS… E já agora pedir a quem decide que venha efetivamente viver para cá. Bem sei que é mais frio, mas com este Verão interminável os únicos a ficar arrepiados são os comercializadores de lenha e gás.

O mesmo país carbonizado vive no limite, mas no limite de coisas que afinal podem sequer nem ter acontecido. Foi realmente roubado material militar? Será a negligência na manutenção dos edifícios a causa do surto de Legionella? Não sei, mas depois de uma pesquisa acerca da oferta de taxas de juro pelas instituições bancárias, só necessito de saber onde é o balcão dos Ladrões de Tancos e onde podemos lutar pela ilegalização dos AVC´s.

No meio de mais “papers” – os Paradise, mas que por não serem de Fuentes pouca amplificação tiveram por cá – emergiu a Igreja Universal do Reino do TecnoEmprendedorismo, e muito se falou acerca do instinto parolo e provinciano em contraponto com a necessidade de um evento desta magnitude para a economia do país. Eu vejo-a como uma oportunidade de comprar umas app´s que substituam o SIERESP, que consigam prever incêndios e que escolham bem os locais para jantares sem ferir protocolos de Estado.

É que não percebo qual é a polémica em relação à utilização do Panteão Nacional para salão de comes e bebes, afinal quem nunca quis comer uma bucha ao lado de Fernando Pessoa, da Amália e do Eusébio que atire a primeira lápide! Ainda assim creio que o local ideal para o jantar seria uma qualquer cantina escolar, com segurança a cargo do Urban, com certeza ninguém se queixaria de lagartas na comida e os empreendedores rapidamente encontrariam uma solução para confecionar uma refeição com sabor e bom aporte nutricional por 1,8 euros.

Depois deste último mês, até o Twiter de Donald Trump deixa de ser um caso de destabilização e absurdo que faça escola em Portugal, com tantos e bons exemplos tão próximos.

Por: Pedro Narciso

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