Há uma leitura nacional a fazer dos resultados das eleições autárquicas do passado domingo. O pior resultado de sempre do PSD, principal partido da oposição, e o melhor resultado de sempre do PS, partido que governa, não pode deixar de trazer consequências além da eleição dos representantes nas 308 autarquias e 3.092 freguesias do país. É inequívoca uma mensagem geral do eleitorado que arrasa com a oposição PSD, os seus pressupostos e a sua liderança. Se esta se fixou num discurso de ilegitimidade da solução governativa, pois bem a democracia acaba de fazer saber o que pensa sobre esse discurso. Na verdade, o eleitorado está a sugerir ao PSD que perceba como tem estado refém de um trauma e que já é hora dele ser ver livre. Obviamente, com este péssimo resultado não vem nenhum colapso ao PSD, que mal dê a volta aos seus fantasmas na história política mais recente do país, e a conjuntura favoreça, estará aí de novo.
Mais complexa é a situação do PCP, o outro anunciado derrotado da noite eleitoral, com a perda de 10 autarquias, algumas delas bastiões fiéis de décadas. Este não tem de ser um recuo irreversível. Há 4 anos os comunistas recuperaram autarquias que haviam perdido em 2009, dizia-se, irreversivelmente. Contudo, é verdade que, para reverter a erosão eleitoral, o PCP, ou a CDU, tem de levar muito mais a sério a sua representação social, a começar pela escolha de candidatos. Não é com candidatos que vão à festa do Avante, mas com candidatos que sintam na pele a precariedade e a exclusão social que um partido de classe se firma. Muito mais socialmente representativo do que cantar Sérgio Godinho ou Zeca é viver as realidades sociais cantadas.
1 de outubro ficará na História, porém, não pelas nossas eleições autárquicas, marcadas por uma maturidade no voto assinalável, mas pela guerra de nervos e empurrões na Catalunha. O que se passou é inaceitável. Não se usa a violência como instrumento político, como bem fez saber a Comissão Europeia. Não se podem mobilizar milhares de agentes da autoridade para atingir e agredir civis, aliás de todas as idades, apenas porque o que estão a fazer não tem reconhecimento jurídico. É demasiado errado. Restabelecer a ordem legal não é justificação para estas manifestações de força. Falta-lhes a proporção, falta-lhes sobretudo a compreensão do que está ser atingido e ferido – não um nacionalismo, não um radicalismo perigoso, mas o valor central do direito da divergência e do protesto diante do que se considera, com mais ou menos razão, injusto. O Estado espanhol não está assim a repor ordem democrática, mas a humilhá-la. Se o que está em causa é a Catalunha querer continuar dentro de Espanha, sem a isso ser forçada, o melhor que Rajoy tem a fazer é mesmo demitir-se.
Por: André Barata