«Um esgoto a céu aberto e sem vida», é assim que a Quercus se refere ao rio Noéme que, ao longo dos últimos anos, tem dado muito que falar na Guarda. As descargas de efluentes industriais e de duas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) – do Torrão e São Miguel – são regulares e foram o “ponto de partida” para a ação de protesto e sensibilização realizada no sábado pelo núcleo regional da Guarda da associação ambientalista.
Da Guarda à Cerdeira do Côa (Sabugal), os elementos da Quercus colocaram cerca de 20 bandeiras negras com inscrições como “o rio está morto” ao longo do curso dos rios Diz e Noéme. Na última paragem estava previsto realizar-se um debate com representantes da Câmara da Guarda/SMAS, da Águas de Vale do Tejo e da Fábrica Têxtil Manuel Rodrigues, que não chegou a acontecer. «Os Serviços Municipais de Água e Saneamento da Guarda e a empresa Águas do Vale do Tejo informaram que não podiam estar representadas», esclareceu a Quercus em comunicado, adiantando que em breve será feito novo convite a estas entidades para um debate. «A despoluição do Noéme constitui, ou deveria constituir, uma prioridade para as entidades com poderes de decisão no assunto», considera a Quercus.
No documento, o núcleo regional da Guarda afirma que a resolução do problema «passa pelo investimento em equipamentos de tratamento dos efluentes industriais», mas que «ninguém» quer assumir na íntegra esse financiamento. Até lá, a Quercus vai continuar atenta «até que surja uma solução», pois a resolução deste problema passará sobretudo pela «vontade dos decisores políticos». No sábado, a população que convive diariamente com este problema teve oportunidade de manifestar a sua opinião e, segundo António Godinho, membro da direção da Quercus da Guarda, as pessoas continuam a usar a água do rio para rega, mesmo «contra todas as indicações sanitárias»: «Quando o rio desce fica tipo uma espécie de nata negra nas margens, como se fosse uma maré negra», adiantou, lembrando que «estar comodamente na cidade» é «completamente diferente de contactar todos os dias com aquela situação».
O dirigente espera que as promessas de despoluição que têm sido feitas «passem à prática» e haja «realmente vontade de investir nos equipamentos necessários». O social-democrata Álvaro Amaro, que se recandidata à Câmara da Guarda, volta a inserir no top 10 dos seus compromissos eleitorais a despoluição dos rios Diz e Noéme. O agora cabeça-de-lista da candidatura “Guarda Confiante” havia prometido há quatro anos fazer algo nesse sentido.
Sara Guterres