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Crónica de uma morte anunciada*

Mitocôndrias e Quasares

Na passada sexta-feira foi concluído com êxito mais um projeto de exploração espacial a todos os títulos assombrosos, com a morte anunciada da sonda Cassini.

Após duas décadas de missão, esta sonda, pertencente à Agência Espacial norte-americana, foi ao encontro, pela última vez, do planeta alvo do seu estudo: Saturno. Depois de ter percorrido cerca de 7.800 milhões, de quilómetros a sonda deu o mergulho final em direção a este gigante gasoso e incendiou-se. Saturno é o segundo maior planeta do sistema solar, sendo considerado uma espécie de Júpiter mais pálido, mas com uma composição semelhante. Saturno, como todos os planetas gasosos, tem um sistema de anéis, embora os seus sejam sem dúvida os mais elegantes, facilmente visíveis da Terra apenas com um pequeno telescópio. São compostos por um número imenso de pequenos blocos de gelo em órbita à volta do planeta, como satélites independentes, alguns tão grandes como uma casa.

Outro aspeto interessante de Saturno é a sua forma. Devido à sua rápida rotação, cerca de 10 horas, 13 minutos e 59 minutos, é claramente achatado nos polos. Os anéis de Saturno são particularmente visíveis porque as partículas que os constituem são brilhantes – cada uma está coberta ou é mesmo inteiramente constituída por gelo altamente refletido. Os anéis de Saturno são muito planos. Embora de um extremo ao outro meçam mais de 280.000 quilómetros, a maior parte mede entre algumas dezenas de centímetros a algumas dezenas de metros.

Outro aspeto a destacar em Saturno é o elevado número de satélites que possui. Sendo o segundo maior planeta do sistema solar, com o segundo maior campo gravitacional, atraiu e prendeu um grande número de asteroides, transformados em satélites. Atualmente, conhecem-se 60 satélites de Saturno. Mais uma vez, como acontece com Júpiter, Saturno tem alguns satélites de dimensões consideráveis, que não são meros asteróides capturados.

Muitas das informações aqui veiculadas devem-se à missão espacial da sonda Cassini, ainda que a primeira pessoa a observar os anéis de Saturno tenho sido astrónomo italiano Galileu Galilei através de um telescópio muito rudimentar.

Esta aventura espacial iniciou-se a 15 de outubro de 1997, quando esta sonda partiu da base espacial de Cabo Canaveral, na Florida, em direção a Saturno. Esta viagem demorou cerca de sete anos, tendo feito várias passagens perto de outros planetas como Vénus, Terra e Júpiter, por forma a utilizar a sua força gravítica e acelerar.

Com a chegada a Saturno começou a missão desta sonda, da qual resultou a extraordinária marca de mais de 453 mil registos fotográficos, a descoberta de seis novas luas e a recolha de 635 gigabyte de dados científicos. Desta miríade de dados foram publicados quase mil artigos científicos sobre a Cassini. Tal como refere o astrofísico português Pedro Machado, numa recente entrevista ao jornal “Público”, «Os livros de História não seriam os mesmos sem a missão Cassini».

* Título do livro de Gabriel García Marquez, publicado em 1981

Por: António Costa

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