Durante décadas, Emílio Aragonez foi uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
Emílio Aragonez, uma figura com profundas ligações à Rádio Altitude, nasceu em 21 de setembro de 1934, em Portalegre; veio para a Guarda com cinco anos. Posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à cidade da Guarda, onde começou a trabalhar aos 11 anos, na Ourivesaria Correia.
Aos 18 anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica. Contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os 19 anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de 50. Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões, silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas, deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso.
A sua voz aquecia as noites guardenses, esbatia a solidão, aumentava progressivamente o auditório, despertando incontidas manifestações de simpatia.
A Rádio representa para Emílio Aragonez «praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo», disse-nos há algum tempo. Emílio Aragonez é uma memória viva da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região.
Como escreveu Albino Bárbara neste mesmo jornal, é mais do que justificado um reconhecimento público a este homem da Rádio e do Jornalismo; a este homem da Guarda que não esquecemos e felicitamos.
Por: Hélder Sequeira
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