«Vivemos dias que parecem ter eco nas palavras de Alexandre O’Neil, quando disse que “o medo toma tudo”», alertou Fernando Paulouro Neves, que recebeu o Prémio Eduardo Lourenço 2017 na sexta-feira, na Guarda.
Na sua intervenção, o escritor, cronista, jornalista e antigo diretor do “Jornal do Fundão” considerou que neste momento, em Portugal, «a liberdade é a equação mais difícil de resolver num quotidiano triste e cinzento», dominado pela propaganda e pelas pressões económicas, políticas e sociais. Nesse sentido, o vencedor da 13ª edição fez questão de repartir a distinção com os «camaradas de profissão», sobretudo o seu tio, António Paulouro, fundador e histórico diretor do “JF”, já falecido. O jornalista afirmou ainda que recebeu o galardão com «honra e gratidão» porque «um prémio com o nome de Eduardo Lourenço é o mesmo que dizer um prémio da cultura portuguesa».
No elogio ao premiado, Arnaldo Saraiva considerou que o galardão «nunca assentou tão bem» a um premiado como a Fernando Paulouro Neves. «Tem méritos que nenhum outro vencedor evidenciou, desde logo a sua intervenção relevante na Beira, desde a Beira, ao longo de décadas», sublinhou o professor universitário, acrescentando que o fez sempre «sem provincianismos». Por sua vez, Álvaro Amaro disse que o galardoado foi «um digno continuador da obra do seu tio» no “JF” e que esta distinção «distingue também a comunicação social, que resiste, outras vezes persiste». Para o presidente da Câmara da Guarda, Fernando Paulouro Neves «sempre se pautou pela defesa da região e só isso já é um valor superior», enaltecendo ainda o seu «espírito de luta e resistência».
Já Eduardo Lourenço destacou o facto do prémio com o seu nome instituído pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI) ser atribuído, pela primeira vez, a «alguém que é de uma geografia cultural mais modesta relativamente à Ibéria». Fernando Paulouro Neves «é um beirão, um escritor que escreve e fala do que é a sua vivência, esta província», afirmou o pensador, destacando que é um cronista «de convicção e exceção, muito atento àquilo que se passa, e com um grande olhar crítico sobre a realidade portuguesa». O Prémio Eduardo Lourenço, no valor de 7.500 euros, já distinguiu várias personalidades de relevo de Portugal e de Espanha.
Luis Martins