O museu dedicado aos refugiados e a Aristides de Sousa Mendes, em Vilar Formoso, é «uma chamada de atenção constante para que não nos esqueçamos, não nos resignemos, não nos demitamos da nossa luta por valores fundamentais da pessoa humana. Foi com Aristides de Sousa Mendes. Tem de ser com muitos, muitos mais hoje e no futuro. É a lição deste museu».
A declaração é de Marcelo Rebelo de Sousa, que, no passado 26 de agosto, inaugurou o o polo museológico “Vilar Formoso Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes”, construído junto da estação de caminho-de-ferro da vila fronteiriça. Na cerimónia, o Presidente da República sublinhou que «não nos podemos esquecer, não nos vamos esquecer. A dignidade da pessoa humana triunfará», perante, antigos refugiados e seus familiares e familiares de Aristides de Sousa Mendes, entre outros. Entre 17 e 19 de junho de 1940, o cônsul português em Bordéus assinou 30 mil vistos para salvar pessoas do holocausto nazi, contrariando as ordens do Governo de Salazar, situação que o levaria à expulsão da carreira diplomática. Muitos desses refugiados entraram em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso pouco tempo depois.
O projeto do museu, criado pelo município de Almeida, custou cerca de 1,2 milhões de euros, ocupa dois antigos armazéns da Infraestruturas de Portugal, antiga Refer, e está integrado na Rede de Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad. O espaço acolhe seis núcleos expositivos relacionados com as temáticas “Gente como nós”, “Início do pesadelo”, “A viagem”, “Vilar Formoso fronteira da paz”, “Por terras de Portugal” e “A partida”. Na ocasião, António Baptista Ribeiro, presidente da Câmara de Almeida, disse esperar que o novo equipamento cultural «possa servir de exemplo àqueles que o visitam» e que «seja catalisador de um desenvolvimento sustentável» para Vilar Formoso. O museu foi apoiado pelo Estado Português e pelo EEA Grants “2009-2014”, um mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA) através do qual a Noruega, Islândia e o Liechtenstein financiam diversas áreas prioritárias de ação junto dos países beneficiários do Fundo de Coesão da União Europeia.
Câmara paga renda de 750 euros à IP
A Infraestruturas de Portugal (antiga Refer) cobra 750 euros por mês à Câmara de Almeida pela ocupação de dois armazéns desativados na estação ferroviária de Vilar Formoso que o município recuperou para acolherem o polo museológico “Vilar Formoso Fronteira da Paz – Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes”.
Segundo o diário “Público” do passado domingo, o contrato tem a duração de 20 anos. Ao jornal, António Baptista Ribeiro adiantou que tentou sensibilizar a empresa pública para «o carácter cultural e humanístico» do museu, mas que a IP foi «insensível» à argumentação. «Só consegui negociar os 750 euros: inicialmente, pediram-me o dobro desse dinheiro», acrescentou o autarca, revelando que a empresa queria que o município pagasse também uma balança de pesar vagões e uma velha grua (sem uso há décadas) só porque estes equipamentos também estavam junto aos armazéns.
A Câmara já paga a renda à IP desde há um ano, quando tomou posse dos edifícios. Por sua vez, a empresa confirmou ao “Público” o aluguer de 750 euros por mês pagos à IP – Património. Situação contrária acontece no edifício da Alfândega, situado na fronteira com Fuentes de Oñoro, recuperado pela autarquia para ali funcionarem os serviços alfandegários e o Centro de Desenvolvimento Económico Transfronteiriço. Aqui, a Direção-Geral do Tesouro não cobra qualquer renda e cedeu o imóvel – de arquitetura típica do Estado Novo, com azulejos de Júlio Resende e esculturas de Lagoa Henriques – ao município de Almeida por 30 anos.