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A (falta de) identidade da Guarda

Fio de Prumo

De há um tempo a esta parte dei por mim a pensar em que região fica a Guarda. E, para meu próprio assombro, constatei que não é fácil apreender com total segurança tal esclarecimento.

Encontrei um sem número de designações, umas mais recentes, outras mais longínquas, as quais se associaram à Guarda, ou às quais a Guarda se associou. Podemos enumerar algumas: Egitânia, Beira, Beira Baixa, Beira Trasmontana, Beira Serra, Beira Alpestre, Beira Alta, Cova da Beira, Alto Mondego, Planalto Beirão, Beira Interior, Sub-Região Beira Interior Norte e Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela. Asseguro que não estou certo de que outras certamente não tenham passado despercebidas, tal é a quantidade.

Entre todas estas divisões ou designações, desde eclesiásticas a civis – província tradicional, comarca, antiga província, região natural, circunscrição, sub-região, divisão, subdivisão ou agrupamento –, o que ressalta é uma certa indefinição que atravessou gerações e chegou à atualidade.

Se a preponderância da Guarda foi marcante com a diocese da Egitânia, o mesmo não se pode dizer das restantes divisões ou pertenças, algumas delas com fortes disputas, umas conseguidas, outras que não passaram de mera reclamação de intenções. Determinadas iniciativas, por sinal bem corajosas, nomeadamente uma que, ao que consta, reuniu cerca de 50 mil assinaturas reclamando, em pleno período do Estado Novo, junto de António de Oliveira Salazar, a criação da Beira Transmontana, por separação da Beira Alta, cuja sede era Viseu. Má-sorte o governante fascista ser de Santa Comba Dão!

Mas passado é passado. E as denominações dessas épocas pouco ou nada importam, a não ser para demonstrar a ausência de uma identidade própria clara e bem definida. Ou, então, a presença de uma identidade controversa, o que parece ser mais o caso. As décadas de governos civis distritais também não ajudaram, o processo de regionalização nos anos 90, e o seu falhanço, ainda menos: ser parcela periférica do “Centro” é, em si mesmo, uma forma de diluição.

O que é facto é que estamos hoje perante uma marca e uma centralidade difusa e, ao mesto tempo, insipiente, pouco definida. Isso prejudica toda uma região, a qual anseia ver na Guarda uma liderança forte capaz de polarizar, aglutinar e reivindicar.

Afirmar uma identidade própria é um imperativo político de toda e qualquer região. É um ponto de partida indispensável para a afirmação de uma marca identitária, a qual tem de ser bem definida como acontece hoje – e com bons resultados – noutras regiões do país. Os casos de sucesso recente das regiões de Trás-os-Montes, ou do Alentejo, são um exemplo disso, na esteira de regiões “naturais” como o Algarve, os Açores ou a Madeira.

Não sendo tudo, uma marca identitária clara é, sem dúvida, um bom ponto de partida. A Guarda precisa de se definir e de se afirmar. Tem de ser claro para nós quem somos, de onde partimos, onde estamos e, sobretudo, onde queremos chegar.

Por: Acácio Pereira

* Presidente do SCIF-SEF – Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF

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