Se me perguntarem qual a melhor atriz do velho Hollywood, eu respondo «talvez de Havilland e Stanwyck». Davis, Bergman ou Hepburn, peço-vos desculpa, mas essa tal Stanwyck, menos célebre que vocês, é um dos maiores talentos que o mundo já conheceu.
Não estou sozinho nesta opinião. Existem vários fãs da Babs, um deles o realizador espanhol José Luis Garci, que a considera, se não estou em erro, a sua atriz favorita. O dom mais poderoso de Stanwyck é a sua astronómica versatilidade. Ela é capaz de fazer qualquer coisa e tudo o que faz, faz muito bem: rameira em “Baby Face”, mãe pobre e sofredora em “Stella Dallas”, corista cómica em “Ball of Fire”, “femme fatale” tão sexy quanto perversa em “Double Indemnity”, mulher indefesa em “Sorry, Wrong Number”. Percorrendo brilhantemente todos os géneros, Stanwyck provou que não é uma estrela de um tipo específico. Não há barreiras para Babs!
Quem é Stanwyck? Não sei ao certo. Não há grandes escândalos na sua vida pessoal (era uma mulher discreta) e não há em si uma atitude de estrela. Todo o seu encanto está contido nas suas interpretações. É aí que reside o mito Stanwyck. O seu talento e carisma colam o espectador ao ecrã tal como se Babs nos prendesse o olhar com a pulseira que circunda o seu tornozelo em “Double Indemnity” (o melhor “noir” de todos os tempos).
Nascida como Ruby Stevens, em Brooklyn, no ano de 1907 (faria agora 111 anos), Stanwyck teve uma vida de pobreza e instabilidade afetiva até começar a cimentar dignamente a sua carreira. Foi com Frank Capra que realizou os seus primeiros sucessos, tendo o seu apogeu na década de 40. Ao contrário da maioria dos atores, Babs nunca esteve associada a nenhum estúdio em particular. Independente, respeitada e respeitadora (era devotamente profissional), Stanwyck destacava-se também por ser amorosa e altruísta, especialmente para com os jovens atores com quem contracenava (Monroe e William Holden ficar-lhe-iam agradecidos para o resto das suas vidas).
Apesar das mais que justas quatro nomeações, nunca saiu vencedora, levando a que fosse chamada de “A melhor atriz que nunca ganhou um Óscar”. Tamanha injustiça! Mesmo não sendo convencionalmente muito bonita e usando, em “Double Indemnity”, uma horrorosa peruca loira (o produtor Buddy DeSylva chegou mesmo a dizer: «Contratámos a Barbara Stanwyck e aqui temos o George Washington»), Stanwyck não deixa dúvidas de que é a “femme fatale” mais fatal de todas. O mundo que se renda a seus pés, às suas pernas, à sua pulseira pechisbeque e viperina.
Certa vez disse: «O meu único problema é encontrar uma forma de interpretar a minha quadragésima “femme fatale” de uma forma diferente da minha trigésima nona». Ó Barbara, asseguro-te que fizeste de tudo e em tudo revelaste uma energia sedutora! E tudo isso “straight down the line”.
Miguel Moreira