Era uma vez um Rei muito vaidoso.
Famoso pelo culto da imagem e protegido na couraça da sua arrogância. O que dizia e o que não dizia, sempre idolatrado pela corte.
Na presunção pública tornada moda de que quem o não o compreendesse e seguisse era tolo ou parvo.
Por conseguinte, tudo o que de crítica lhe era dirigido, era inconsequente, indigno, contrário à verdade, nada ou pouco inteligente.
Cedo lhe tinham revelado as manhas da política, a importância da propaganda, a utilidade da festa, a criatividade imensa que existe na ilusão e a estratégia da vitimização.
O vazio como um balão de ensaio da ilusão.
A presença, o gesto, a palavra, o sentimento, a dor e a alegria de que se trasvestia, era o bastante para alimentar o elogio, o louvar e a dedicação fiel dos outros.
A corte era obsessiva no elogio, intransigente com a crítica.
E o Povo, vaidoso e preocupado em parecer inteligente, tomava a ilusão pela realidade, incapaz de ver para além da propaganda, entretido e feliz pela festa.
A festa, sempre a festa e muita festa!
E o silêncio a animar o abuso.
O pouco que parece muito, a exceção que parece a regra. O embrulho colorido a seduzir pela aparência. Sem conteúdo. Vazio.
A propaganda, a demagogia, o elogio desenfreado cada vez mais difícil de entender.
E o Povo com a preocupação de parecer inteligente a fingir de entendido sem compreender.
Até ao dia, quando o Rei tiver de desfilar e comparecer perante o julgamento do Povo.
Cheio de projetos e novas promessas, com a brisa a trazer o cheiro intenso a alcatrão e tinta plástica.
Talvez aí, a inocência de alguém poderá gritar afinal que “o Rei vai nu”.
Como no conto do famoso autor dinamarquês Hans Christian Andersen.
Por: Júlio Sarmento
* Antigo presidente da Distrital do PSD da Guarda e ex-presidente da Câmara de Trancoso
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