O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) obteve a aprovação e financiamento dos seis projetos submetidos ao Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica (SAICT) dos quais é líder. O IPG obteve o pleno de candidaturas que a instituição se podia submeter e assegurou a participação em mais nove projetos com instituições de Ensino Politécnico congéneres.
Uma das candidaturas aprovadas relaciona-se com o projeto “A geologia como base da qualidade de vida – A sustentabilidade do Lítio”. “A gestão sustentável de recursos é atualmente uma prioridade da sociedade em que vivemos, sendo que cada região deve tirar partido dos seus recursos naturais, em particular dos seus recursos endógenos de natureza geológica. A Europa é deficitária em lítio. Portugal e Espanha são os únicos países da EU com recursos deste minério e com potencial para novas descobertas, como o comprova o recente relatório do grupo de trabalho sobre o lítio criado pelo governo em dezembro de 2016”, comentou Ana Antão (ESTG/IPG), a investigadora responsável por este projeto.
A produção nacional de Lítio concentrada nas regiões de Guarda, Viseu, Vila Real e Viana do Castelo, tem vindo a aumentar, assim como os pedidos de prospeção e pesquisa para este metal. Acontece ainda que muitos dos recursos geológicos portugueses situam-se em zonas desfavorecidas do nosso território, por vezes longe dos grandes centros urbanos.
A zona de intervenção do projeto, Gonçalo-Guarda, além de possuir as características anteriormente referidas, é uma das únicas no panorama português dos recursos de minérios litiníferos associadas aos pegmatitos, sendo a sua valorização, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável, uma mais-valia para esta região. Esta, integrou no passado um vasto campo mineiro, cuja exploração se traduziu em impactes ambientais com repercussões muito agressivas no território e nas comunidades locais. A mudança de paradigma relativamente a esta temática será um outro importante objetivo que se pretende alcançar.
Pretendeu-se com a submissão deste Projeto de IC&DT ao Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica (SAICT), aprofundar o conhecimento sobre as jazidas de lítio e minérios a ele associados, que ocorrem na formação geológica-sedimentar do Vale da Gaia (Gonçalo-Guarda). Com efeito, o recurso ao lítio como fonte de combustível limpa, barata, abundante, reciclável e reutilizável deve merecer um estudo técnico-científico aprofundado da área onde se insere a mina C-57, propriedade da empresa copromotora deste projeto. A realização deste trabalho irá determinar na zona um novo conjunto de valências em termos industriais e comerciais, que irão contribuir positivamente para valorizar a região.
As parcerias com a APG e a EFG resultam da relevância que ambas as organizações têm no panorama nacional e internacional de divulgação e disseminação dos raw materials; incorporam-se ainda as competências da APG relativas ao geoturismo, com destaque para a sua experiência na implementação de percursos pedestres e roteiros.
Além destas parcerias, o Projeto conta ainda com a colaboração dos Institutos Politécnicos de Tomar e de Castelo Branco; por se tratar dum antigo campo mineiro com profundas cicatrizes na comunidade local, pretende-se o envolvimento desta e da região onde se insere, através do conhecimento do seu património natural geológico com vista à sua preservação, divulgação e como uma mais-valia do ponto de vista da sustentabilidade.
A criação de percursos temáticos com vista ao património mineiro edificado, bem como a implementação de visitas de escolas e outras instituições, tem por objetivo a valorização deste recurso na estruturação de produtos turísticos diferenciados tais como o turismo de percursos e o turismo de experiências. Pretende-se também com este estudo, permitir que populações locais possam conhecer os atributos dos seus recursos hídricos e do ar e assim colmatar a inexistência de dados que muitas vezes se traduz numa ignorância que pode ser muito prejudicial em termos de saúde pública.
Para se atingirem os objetivos elencados são consideradas várias atividades que se irão desenvolver faseadamente ao longo do Projeto. De entre essas atividades há a destacar os levantamentos topográficos e cadastrais necessários para a modelação 3D do terreno e do campo filoniano em estudo, bem como os estudos de impacte ambiental relativamente aos recursos hídricos com a monitorização de águas e poeiras.
A investigadora responsável pelo projeto, Prof. Doutora Ana Antão (ESTG/IPG), considera que a “criação de percursos temáticos ligados à geologia, à atividade mineira, religiosa e cultural e a conceção de um Museu a céu aberto na zona em estudo, serão atividades que contribuirão para a mudança do paradigma relativamente às repercussões que as atividades do setor extrativo produziram nesta região.” Pretende-se, assim, “trazer a comunidade local para o seu território, maximizando um produto único nesta região e em Portugal”.