Arquivo

Maúnça, uma quinta esquecida por todos

A Quinta da Maúnça é uma quinta pedagógica, na Guarda, tendo ali acorrido milhares de crianças de vários pontos do país

A alta vegetação, a convidar o fogo, e o evidente abandono da Quinta da Maúnça, na Guarda, saltam à vista até dos mais distraídos. Quem por ali passa não reconhece aquela que já foi uma quinta pedagógica visitada por milhares de crianças para aulas de educação ambiental.

Hoje, o descuido e o abandono a que o equipamento foi votado são visíveis e quem se atreve a ir lá encontra um cenário devastador: carroçaria abandonada, casas vazias, falta de manutenção, vegetação seca e caminhos por arranjar. A única coisa que ali se mantém viva é um jardim sensorial, possivelmente tratado e regado pelo único funcionário que se encontra na Maúnça a tempo inteiro, mas que não tem computador, nem telefone ou Internet. É um espaço irreconhecível para quem, em tempos, assistiu a workshops sobre saladas selvagens, cozinha vegetariana e cosméticos naturais ou participou na semana da primavera biológica e da floresta. Em 2009 houve um grande investimento na Maúnça, tendo sido inauguradas novas estruturas como um laboratório para pequenas experiências, a Casa da Quinta, um Espaço Saber + e um novo percurso pedestre. Volvidos oito anos, todos aqueles espaços estão fechados.

Fonte ouvida por O INTERIOR, que pediu para não ser identificada, adiantou «de há seis anos para cá a Quinta da Maúnça foi morrendo», o espaço «deixou de existir, ninguém se lembra dele nem se questiona». Ainda de acordo com a mesma fonte tudo o que estava ligado à Maúnça foi extinto: «O site foi retirado, era suposto ter sido integrado na página oficial da Câmara da Guarda, mas a verdade é que os conteúdos não migraram para lá. Foi tudo apagado pura e simplesmente», lamenta. Em setembro de 2015, quando aqueles terrenos ainda pertenciam à sociedade Imoguarda (Sociedade de Turismo e Desenvolvimento Imobiliária), constituída em 1989 com a SINPAR (Sociedade de Gestão, Investimentos e Participações), Álvaro Amaro dizia que a Maúnça estava «subaproveitada» e que era «uma pena ter esta quinta às portas da cidade e estar como está».

Nessa altura, a Câmara aprovou, por unanimidade, a proposta de dissolução da Imoguarda. A verdade é que, quase dois anos depois, a Quinta da Maúnça está possivelmente pior do que estava. Hoje já ninguém lá vai. Aquele espaço foi esquecido, mas o edil guardense garante que serão apresentadas «novidades em breve». «Nestes últimos anos a Câmara estudou várias soluções, mas que não eram viáveis no momento atual», disse Álvaro Amaro a O INTERIOR, admitindo que a Quinta da Maúnça «é mal empregada estar assim». Não adiantando muito mais, o presidente reforça que só está na Câmara há quatro anos e que é difícil «resolver um problema que já vem de trás». Contudo, promete revelar «soluções» no programa da sua recandidatura ao município.

«Erro político»

Arredada de funções públicas desde 2009, Maria do Carmo Borges, na altura presidente do município da Guarda e impulsionadora deste projeto, lamenta o estado de abandono da quinta pedagógica e critica o facto da ideia inicial do projeto ter sido «deixada de lado». A ex-autarca recorda que a Quinta da Maúnça começou por ser uma zona de «interpretação da natureza» e também um incentivo à «formação dos mais pequeninos». Na sua opinião, aquele local podia ser melhor aproveitado: «Em vez de ser um mero armazém de quem vem para colocar as flores nas rotundas podia ser um local onde se produzissem e tratassem essas flores», sublinha a mentora da Quinta, acrescentando que com «tanta festa e comemoração, deixam-se ao abandono espaços municipais» onde é possível fazer «coisas bonitas, tratar, ensinar, aprender e colaborar para que os mais novos comecem a gostar de preservar o ambiente».

A socialista considera um «erro político» não se ter continuado a trabalhar aquele espaço e espera que «as coisas mudem para melhor», afiançado que para isso é necessário que existam «políticos com sensibilidade suficiente» e que se olhe para o desenvolvimento integral da região e da cidade «de forma diferente daquela que está a ser vista». Também Jorge Mendes, candidato pelo Bloco de Esquerda (BE) à Câmara da Guarda, já criticou o abandono daquele equipamento municipal dizendo recentemente que o que se está a passar na Quinta da Maúnça é «a destruição completa do espaço».

Sara Guterres Antes era o verde que saltava à vista, agora é a alta e seca vegetação que não passa despercebida

Comentários dos nossos leitores
Mike mikealfa@hotmail.com
Comentário:
Uma riqueza destruída pela incompetência e clientelismo que custou muitos euros aos guardenses. Que interesses estão por detrás do seu abandono?
 
antonio vasco s da silva vascosil@live.com.pt
Comentário:
Está à vista de todos que há interesses instalados.Resta saber quem vai ganhar com isto. Como sempre, quem perde é quem paga.
 

Sobre o autor

Leave a Reply