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Quinta da Maúnça

Editorial

1. A Quinta da Maúnça era, até há poucos anos, um espaço educativo florestal, uma quinta “pedagógica” viva para as crianças, promovida pela Câmara da Guarda e que, durante 10 anos, foi uma referência regional como centro de Natureza. Estranhamente, deixou de o ser. Hoje, a Maúnça é uma quinta abandonada, despida de verde, seca, morta…

A história do projeto merecia uma tese – onde se concluiria que “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita”.

A Quinta da Maúnça passou a ser conhecida após a constituição da Imoguarda, uma estranha sociedade entre a Câmara da Guarda e a Sinpar (imobiliária da UGT). Num primeiro momento, há trinta anos, a UGT estaria interessada em criar um centro de lazer e hotel sénior naquele local, mas o assunto depressa foi esquecido e a partir daí ninguém compreendeu a motivação para aquela compra; ninguém explicou o que a autarquia ou o sindicato iriam promover naquela colina; nem Abílio Curto, nem Torres Couto ou qualquer outro dos então responsáveis pela sociedade souberam ou quiseram identificar publicamente o teor do projeto definido para aquela propriedade, de mato, pinheiros, castanheiros e giestas na zona de João Bravo. Em junho de 2002, a Câmara da Guarda decidiu avançar com o projeto de espaço educativo florestal e adquirir à sua sócia o total da propriedade pagando à Sinpar um milhão de euros. Entretanto gastou lá outro tanto, ou mais, em estruturação, equipamento, tratamento do espaço, etc.

Depois de anos a esconder debaixo do tapete as contas da Quinta da Maúnça, com a chegada de Álvaro Amaro à Câmara da Guarda o executivo terá remetido para o Ministério Público o pedido de averiguação daquele negócio. Para o presidente da Câmara era preciso apurar se houve legalidade nos pagamentos da autarquia, em 2013, a uma empresa que já tinha sido extinta (a Imoguarda). Após esse gesto altivo de Álvaro Amaro nunca mais se ouviu falar do assunto, nem dos pagamentos à Imoguarda durante anos e, em especial, depois desta ter sido extinta, nem das opções para o futuro da Quinta.

Em 2012, supostamente por decisão do anterior vice-presidente Virgílio Bento, o projeto da quinta pedagógica foi alterado, com um desinvestimento que o atual executivo endureceu votando a Maúnça ao abandono. E é assim que hoje encontramos aquele que foi o mais relevante projeto ambiental do concelho e um centro lúdico e educativo dinâmico, onde muitas crianças adquiriram sensibilidade ambiental e algumas famílias cultivaram hortas coletivas; que recebeu crianças de toda a região para passarem um dia diferente, na quinta, em contacto com a natureza, a aprender a cuidar da floresta, a plantar árvores, a aprender botânica. Durante dez anos, chegaram à Maúnça milhares de crianças de todas as escolas da região (e mesmo do país) para conviverem e descobrirem a alegria da natureza. Durante dez anos todos os dias havia festa na Quinta. A festa acabou! Dado o estado de abandono, as flores murchas, o mato seco e as plantas abandonadas, só falta um incêndio voltar àquela encosta para os responsáveis voltarem a falar da Quinta da Maúnça. Até lá, ninguém quer saber do futuro de uma propriedade onde foram gastas centenas de milhares de euros, públicos, ao longo de anos.

2. Se a “natureza morta” é a escolha da Câmara da Guarda para a Maúnça, que dizer do Parque Urbano do Rio Diz (Polis) onde o lago está sujo e cheira mal, a erva está seca e abandonada (com os cães a defecarem por todo o lado), com o cheiro da erva a dar lugar ao do betuminoso (assim já se pode ir de salto alto ao Polis), com a estrutura da FIT a ocupar durante meses uma parte substancial daquilo que era uma zona tranquila e de lazer para as pessoas, com a limpeza a ser uma quimera e aquele que foi o mais extraordinário investimento público ambiental para fruição do cidadão a ser transformado num espaço “vivo e ativo”, quase luxuriante, mas cada vez menos “natural”, tranquilo, sossegado e relaxante?

Luis Baptista-Martins

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