A diretora técnica e uma educadora do Lar de Infância e Juventude da Casa do Menino Jesus, na Covilhã, foram constituídas arguidas por suspeitas de maus-tratos a utentes internados na instituição. O INTERIOR sabe também que a referida diretora já pediu a demissão.
Depois de, em março, uma das crianças ter fugido da instituição, o lar começou a ser investigado pelas autoridades. Em junho, O INTERIOR publicou uma reportagem com o relato de um funcionário da Casa do Menino Jesus onde denunciava casos de alegados maus tratos. Posteriormente a essa notícia, a direção desta IPSS anunciou que abriu um inquérito interno para apurar a veracidade dos factos relatados. Em comunicado, a direção informou ainda que dará conhecimento das conclusões à Procuradoria do Tribunal de Família e Menores da Covilhã e ao Centro Distrital de Segurança Social de Castelo Branco. Quinze dias depois das primeiras notícias, há mais relatos de alegados maus tratos na Casa do Menino Jesus.
O INTERIOR ouviu mais um testemunho da situação vivida alegadamente no Lar de Infância e Juventude. Sem querer ser identificada, uma mulher diz conhecer de perto esta realidade e garante que «sempre suspeitámos que havia algo que não batia certo». A fonte, que pediu anonimato por ter um familiar na instituição e recear represálias, conta que as crianças falam várias vezes que «a educadora lhes bateu». E recorda que uma vez, na tentativa de falar com a criança que lhe é próxima, a funcionária esqueceu-se de desligar o telefone e o que se seguiu foi assustador. «Não sei o que aconteceu depois, mas comecei a ouvir os gritos de uma criança. Gritou durante 34 minutos a pedir ajuda», lembra, adiantando que a falta de cuidados de higiene é outros dos problemas apontados, bem como os descuidos com a alimentação. «Eu vi cogumelos e outros alimentos, cujo prazo de validade estava a acabar, ao sol durante a tarde», refere a mulher, acrescentando ter tido também conhecimento de que, «às vezes, almoçam apenas iogurte e pão».
A mesma fonte referiu ainda que as crianças «não abrem muito o jogo com os familiares porque têm medo de ser penalizadas», mas diz não ter dúvidas que os menores acolhidos na Casa do Menino Jesus «são maltratados». Na sua opinião, tudo será supostamente feito com o consentimento da «direção, que sabe e autoriza este tipo de tratamento». Segundo esta mulher, na instituição «há muita falta de carinho e de amor, em vez disso há castigos».
Ana Eugénia Inácio