A maior parte dos portugueses desconhece que em cada estação de rádio há uma luminária com forma de pessoa que decide o que de lá se transmite ou não. Desse modo a lâmpada, a capacidade de iluminar, define o nosso gosto. É uma opção transversal às rádios para lutar por audiências. Os públicos deformam-se nas balizas que lhes formatam o que podem ouvir e depois inclinam-se para aquele espaço, dentro daquele território, formando tendências. Somos as ovelhas conduzidas pelos cães da serra que pastam os terrenos que eles mandam. Milhares de discos são editados por mês na Europa mas só alguns chegam às rádios e só alguns ultrapassam os crivos definidos pelos mandadores da roda. Alguns utilizam mecanismos de escolher com base em inquéritos, em sistemas online, em amostras pré selecionadas de pessoas. A complexidade redunda na mesma decisão dos que escolhem a seu belo prazer. A ditadura sofisticada tem o mesmo fim que a de um homem só. Aqueles discos nunca! Aqueles discos até à exaustão. Todos estes escrutínios deixam a suspeição de negócios obscuros, de decisões compradas, de corrupção latente. Pode não haver, mas o método é muito suspeito e cria um poder vinculativo que leva a compra de discos e a aquisição de serviços. Quem passa tem mais facilidade em ir a festivais. Quem se houve talvez chegue a banda sonora de novela. Assim definimos o gosto das pessoas e determinamos uma seleção da música que ouvimos. Estes processos cortaram liberdade aos jornalistas e assacaram estreitamento na escolha. Quem é o mandador para calar o concertina? Fica a suspeição de que o dinheiro arrasta a escolha. Isto é grave se envolve espaços públicos, de serviço público…
Por: Diogo Cabrita