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O sucesso das novas gerações

Editorial

1. A trilogia tantas vezes atribuída ao salazarismo voltou a ser dominadora no passado fim-de-semana: futebol, Fátima e fado. E se no anterior regime serviu como devaneio, abstracção ou divagação em relação à própria realidade, e com isso o fascismo silenciava as oposições e o povo vivia num suposto limbo de satisfação, em que a alegria do momento, a fé ou as lágrimas da saudade e da nostalgia se sobrepunham à própria capacidade de agir, avançar ou reivindicar, no passado sábado significaram a confirmação da superioridade do Benfica, a visita histórica do Papa e a celebração dos cem anos das aparições de Fátima e, a cereja em cima do bolo, a vitória da música, da cultura e da língua portuguesa numa Eurovisão onde nunca antes fôramos considerados – ouvir tantas vezes “doze pontos para Portugal” soou estranho, único e fantástico…

A poesia e a música que Luísa Sobral criou para a voz única de Salvador conquistou a Europa como nunca ocorrera e como nunca pareceu possível. É um novo tempo o de Portugal no mundo. Um tempo em que a seleção de futebol (o “desporto rei”) de um pequeno país impressionou e foi campeã; um tempo em que Cristiano Ronaldo é um ídolo à escala global; um tempo em que um dos maiores políticos da sua geração chegou à liderança da complexa diplomacia internacional na ONU – António Guterres; um tempo em que Portugal, mais do que estar na moda, é um país que se afirma em todos os sectores e quadrantes, um país onde a ciência e a cultura ainda não têm os prémios Nobel que fazem a diferença, mas que caminha entre os primeiros; um país onde a modernidade dá passos largos como poucos; um país em que os portugueses ainda têm de partir para procurar melhor vida, mas que, aos poucos, vai gerando dinâmicas que asseguram melhorar a vida de todos; um país que mudou muito, e muito ainda irá mudar, para este rectângulo à beira mar plantado se afirmar como uma nação de vanguarda. Um país que tem de estar satisfeito com todas as conquistas, porque, não acontecem, como antes, de forma pontual e ao arrepio dos melhores desígnios nacionais, mas como consequência de apostas honestas, assertivas, planificadas e devidamente estruturadas. Portugal é hoje um país moderno porque, por entre os muitos erros que possamos ter cometido, houve uma estratégia de desenvolvimento na educação e na cultura – uma aposta que devemos a muitos, mas acima de todos devemos a Mariano Gago.

2. É precisamente neste contexto, e depois de um resgate difícil, de empobrecimento generalizado e protetorado de uma Troika sanguessuga, que chega a notícia de que o crescimento nacional no primeiro trimestre de 2017 superou todas as expetativas, trocou os olhos aos analistas e matou definitivamente a tese dos que estão sempre à espera do diabo. Com um crescimento de 2,8 por cento, ainda que circunstancial (um trimestre…. que vale o vale… mas vale muito) e em que só encontramos paralelo, em termos homólogos, no 2º trimestre de 2004.

3. Muito do sucesso do crescimento que vivemos reside no crescimento exponencial do turismo. Portugal é, por todas as razões (e nomeadamente pelas invocadas atrás), o país de moda. Não temos que querer rivalizar com os maiores destinos turísticos do mundo, como França, Espanha ou Itália, mas podemos ter a expetativa de nos aproximarmos. São milhões de estrangeiros que vão descobrindo um pequeno país que, há não muito tempo, era estupidamente referenciado (em especial entre nós) como um província de Espanha. Hoje, somos um destino turístico de eleição, que vai crescer ainda mais, não apenas em Lisboa e nas praias do sul ou no Porto, mas por todo o país. Marquemos o nosso tempo com ambição e saibamos traçar uma estratégia onde a natureza e a paisagem, a gastronomia e o vinho, o património e a ruralidade serão argumentos de peso para o sucesso económico do país e da região. Temos tanto para mostrar; temos tanto para ganhar…

Luis Baptista-Martins

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