As coisas felizes que só alguns podem ter. Objetos intangíveis que percorro na “Monocle” e na “Good Life”. Viajo nas folhas de revistas. Apercebo-me das críticas de discos que não ouvi. Nunca provarei os vinhos referidos nelas. Nunca comprarei os relógios que lá estão. Há mundos diferentes para todos nós. Sei que tenho mais que muitos e menos que bastantes. Percebo que a escolha é aleatória e que a mudança transforma. Ninguém que sobe volta para distribuir benesses excessivas, futilidades inúmeras. Sobra! Porque não se dá? Excede o que podemos comer, o que podemos guardar, o que podemos vestir! Para que mandamos mais? Porque percorremos a tentação? Folheio embevecido e não me canso da beleza, do design, da arquitetura. Objetos sedutores. A maioria dos cidadãos de amanhã não terá casa fixa, não escolherá estantes, não carregará futilidades. A larga maioria observará nos computadores e alugará tempo de prazer nos cenários de outros. Não tendo casa, andam por hotéis. Alugam apartamentos. A diferença estará nos conteúdos, nas ofertas do espaço. Viverão objetos desejados por instantes. Ter um lugar não está na relação de trabalho nómada que enfrentamos agora e me parece vir a tornar-se mais transversal. O legado das casinhas e dos terrenos perece com a geração que as comprou. Aos filhos restam diásporas eternas, trabalhos ocasionais e migrantes. Tudo no espaço informático, na nuvem miragem com listas de discos, memórias de textos, fotos do que gostaria e não posso e não guardo.
Por: Diogo Cabrita