Personificação do exotismo erótico, a liberal austríaca Hedy Lamarr não está tão presente na consciência cultural quanto Garbo ou Monroe. Contudo, na sua época (anos 40/50), Lamarr foi uma das maiores estrelas norte-americanas, sendo conhecida como a mulher mais bela do mundo (e saber que Rita Hayworth é da mesma geração!).
Quando se fala em Lamarr é quase imperativo dar maior destaque à sua vida pessoal que à atriz. De facto, a diva não nos deixou nenhum filme memorável (não que sejam maus, mas tão pouco são obras-primas) nem performances dignas de um Óscar. Os melhores filmes são mesmo aqueles em que recusou participar: “Casablanca” (1942), “Gaslight” (1944) – Bergman deve muito a Lamarr – e “Laura” (1944), que eternizou Gene Tierney.
Antes da sua carreira em Hollywood, Lamarr havia participado no infame filme checo-austríaco “Ekstase” (1933), pioneiro em mostrar, no circuito comercial, um nu frontal. Essa mulher era Lamarr e, como se tal façanha não bastasse, a beldade simulava um orgasmo em “close-up”. Na época, Lamarr era casada com Fritz Mald, um fabricante de armas judeu e nazi e um homem extremamente controlador que tentou destruir todas as cópias do filme. Lamarr, forçada a viver fechada em casa com uma empregada sempre em cima de si, engendrou um plano para escapar a Mald: drogou a criada, vestiu as suas roupas e fugiu para Paris onde conheceu Louis B. Mayer, chefe da MGM que a levou para Hollywood.
Embora uma grande estrela, o seu reinado fílmico foi curto e acabou por ser na área da tecnologia que a diva conheceria o seu maior sucesso. Estávamos em plena 2ª Guerra, quando Lamarr – que entendia de tecnologia graças, em grande parte, a Mald – e o seu amigo compositor George Antheil, ambos com o intuito de apoiar na luta contra o nazismo, desenvolveram um “Sistema Secreto de Comunicações” que consistia em teledirigir torpedos de uma maneira totalmente inovadora: emitir os sinais em diferentes frequências (desta forma, a comunicação era dificilmente intercetada pelo inimigo).
Esta é só a tecnologia base do Wi-Fi, do Bluetooth e do GPS. Na altura, os militares norte-americanos recusaram usar o sistema, mas, com o tempo, a dita invenção acabaria por ser reconhecida, estando Lamarr ainda viva. De facto, foi utilizado eficazmente na crise dos mísseis de Cuba.
O omnipresente Wi-Fi deve-se a Lamarr, um ser que, segundo Groucho Marx, tinha as mamas mais pequenas que Victor Mature, o seu coprotagonista em “Samson and Dalilah” (1949). A mulher mais bela poderá também ter sido, quem sabe, a mais inteligente na área matemática, coisa que uma mente machista terá muita dificuldade em aceitar.
Miguel Moreira