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Sarampo

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Portugal foi um país evoluído que erradicou doenças como a raiva, a tosse convulsa, o sarampo, o tétano, quase a tuberculose. Há mais conquistas impressionantes como a diminuta mortalidade infantil e o parto assistido. Portugal fez diminuir a enormidade da cárie dentária com o fluor nas águas públicas. Fez desaparecer o bócio por falta de iodo. Diminuímos os acidentes de viação que eram o maior flagelo dos anos 70 a 80. Melhorámos a resposta ao trauma com o INEM e outras. Fomos um Portugal maior e invejável. Somos outro agora.

Depois das políticas elaboradas por muitos da Escola Nacional de Saúde Pública, depois da introdução de milhares de administradores hospitalares com salários superiores aos dos técnicos de saúde, depois das PPP, depois da politização das carreiras com concursos que metem dó, depois da construção de sindicatos que só funcionam como mafias de interesses, depois de criação de leis que sempre aliviam o prevaricador, hoje, o SNS está muito pior.

Um país que hoje tem uma taxa de amputações por pé diabético e infeção hospitalar que raia a mediocridade. Amputamos hoje mais que nalguns lugares em guerra. E vem isto tudo a propósito de reaparecerem três casos de sarampo. Há aqui mais uma prova do que foi a política de saúde nos últimos quinze anos e nos seus pilares de sustentação. O regresso do tétano e do sarampo são uma hecatombe nos objetivos do SNS. A política pública controla estas doenças e de forma eficaz. Isto significa que falhámos. O mesmo não é verdade para a diabetes, que depende do parceiro cidadão e seus comportamentos. O mesmo não é verdadeiro para as estradas, que dependem de comportamentos. As políticas de saúde incluem múltiplas ações e algumas punitivas ou castigadoras. Os comportamentos maus regularizam-se. As vacinas devem ser obrigatórias. Eu sou por punição controlada. Avaliação de todas as políticas. Hoje posso afirmar, com as mortes recentes em grande número por surtos de calor e de frio, de gripe e de falha na saúde pública, que esgotámos o modelo. Portugal deve preparar-se para corrigir o que deixou: o legado da teimosia e da vaidade. O sarampo voltou e a hepatite A e a tuberculose estão de regresso e em surpreendente conjugação. Alguém falhou muito e logo foram escolhidos para comissões de saúde e outro para gerir a Caixa Geral de Depósitos.

Por: Diogo Cabrita

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