Sempre pensei que houvesse alguma honra na política, mas, atendendo ao que se passou cá, recentemente, no burgo, a minha réstia de esperança nessa possibilidade acabou. Parece que vale tudo.
Vemos “arqui-inimigos” a formar alianças em nome de uma Guarda com futuro, mas isso soa mais a manobras de bastidores, que terão objetivos diversos daqueles que querem fazer passar, e isso fica-lhes mal, ponto final. Cheira a falso.
Deveria haver algum nojo em fazer certo tipo de concessões. Deixar-se enganar pela falsa bonomia conciliadora de um estratega político é pôr-se a jeito da sua próxima manobra. Como os eucaliptos, alguns políticos adoram secar tudo à sua volta; usar para deitar fora; brilhar no altar de um palco, com microfone e câmaras por perto, a sacar para si os louros de um trabalho, muitas vezes, mal feito e contra os munícipes.
“Quero, posso e mando!” (nem sempre por esta ordem) foi o lema subliminar da chefia nestes quatro anos de governação da mais alta.
Há autarcas cuja única visão é manterem-se no poder ou orbitar à volta dele, custe o que custar. Provavelmente já não saberiam viver da vida “civil”, depois de tantos anos a viver para a política e dela. A última jogada eleitoral foi a de convencer certas personalidades que no passado lhe fizeram frente a passarem-se para a sua banda. Nada a apontar. É estratégia. Só cai quem quer. O que me meteu muita impressão foi ver as mudanças de opinião dos ex-adversários, aparentemente, em troca de lugares de poder na arena política. A acrescentar a essas caras mais ou menos mediáticas que se mudaram do “inimigo” para o terreno do autarca houve, também, na audiência da apresentação, personalidades que ainda há quatro anos encabeçavam listas opositoras e que agora, velada ou tacitamente, apoiam e aplaudem, numa subserviência e beija-mão ultrajantes.
Como disse John Acton, historiador britânico, «o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente». Nada mais inebriante do que esse cheiro. É o maior modulador e adaptador de convicções. O poder é capaz de quadraturas do círculo, golpes de asa e números de equilibrismo, trapezismo e contorcionismo por parte de quem, sem pudor, lhe quer chegar.
Foi um golpe de mestre! Manter os inimigos sob vigilância, convidando-os para a lareira do poder, capitalizando alguns “independentes” e independentes de monta, projetando a imagem de uma falsa coligação e, com isso, pretendendo capitalizar votos para que a cidade ingrata, incapaz de perceber a sua visão reformista, digo, rotundista, lhe volte a dar os cinco vereadores.
Mas, para o autarca, tudo o que sejam menos de cinco vereadores será sempre uma derrota; se forem menos de quatro, provavelmente, partirá para outras bandas, abandonando os ingratos à sorte do seu sucessor. O seu estilo autocrático não encaixa em processos de governação democráticos, e fazer concessões, num executivo sem maioria, é coisa que não é da sua natureza. A receita do chefe é a mais velha receita do mundo autárquico: guardar tudo para o final, para inaugurar em cima das eleições, não sem, antes, ter esbanjado em fogos fátuos e obras caríssimas, inúteis e nem sempre vistosas.
Onde estão, afinal, os “mais miolos e menos tijolos” que prometeu há quatro anos?
Reitero o espanto, repulsa e indignação por ver ex-correligionários meus apoiarem agora quem tanto quiseram combater.
Parafraseando e traduzindo a letra de um tema dos Floyd, sinto-me como o tipo cuja banda começou a tocar músicas diferentes e que tem vontade de desaparecer para o lado escuro da Lua … ou então não.
Por: José Carlos Lopes
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