Estávamos em outubro de 2000 quando a Associação Sócio Terapêutica de Almeida (ASTA) começou a sua atividade. A ideia de criar uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos e de utilidade pública, partiu de Maria José Dinis, mãe de um jovem com deficiência mental e que preside a direção da instituição.
Nessa altura eram apenas cinco os companheiros abrangidos pela associação, que laborava na casa da fundadora, na pequena aldeia de Cabreira do Côa. Mas a ASTA foi crescendo e hoje acolhe 36 companheiros – mais 31 que em 2000 – e conta com 35 colaboradores, incluindo voluntários. De forma gradual, foram criados núcleos familiares, o que permitiu a expansão de atividades e o acolhimento de mais jovens em regime residencial. A “Casa São Miguel”, a “Casa Oliveira” e a “Casa Cristalina” são o resultado de reconstruções feitas graças a donativos e voluntariado, e que hoje constituem espaços privilegiados para treino da autonomia, do sentido de família e da responsabilização grupal. Contudo, foi em 2004 que se deu um grande passo na história da instituição: a obra de raiz, no alto da Fonte Salgueira (a um quilómetro da Cabreira), ficou concluída e passou a ser a sede da ASTA.
Isso permitiu outra respiração pedagógica, terapêutica e social. Trata-se de um equipamento constituído por três edifícios distintos: Ateliers Verde Pino, Casa da Fonte e Atelier de Carpintaria. Dois anos depois foi também criado um campo de jogos, financiado pela autarquia de Almeida, que tem vindo a permitir uma dinâmica desportiva saudável, socializante e pedagógica entre as populações vizinhas e o grupo da ASTA. Embora nestes 17 anos muita coisa tenha mudado, em grande parte devido aos amigos da ASTA que têm acompanhado a associação no seu percurso, Maria José Dinis garante que a visão inicial continua a nortear esta IPSS: «Ela consiste em promover um espaço sustentável, dentro de uma ambiência rural e sócio terapêutica, onde as pessoas com deficiência intelectual possam encontrar o seu caminho numa perspetiva biopsicossocial e espiritual», declara.
Os utentes são pessoas com deficiências mentais, umas mais afetadas a nível cognitivo, outras a nível motor, mas «todas elas com uma capacidade de ser, de dar e a precisar de um enquadramento por forma a serem respeitadas, dignificadas e “aproveitadas” no seu melhor», sublinha Maria José Dinis. A responsável confessa que não esperava que a ASTA tivesse «o impacto que teve na sociedade» ao longo destes anos e recorda que, inicialmente, as dificuldades foram muitas, principalmente a nível humano e social: «A sociedade não estava preparada para um projeto desta natureza diferenciadora», considera a fundadora, recorrendo à famosa frase de Fernando Pessoa, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”, para sublinhar que o trabalho da ASTA já é reconhecido a nível nacional. «Tenho agora a pretensão de dizer que, de alguma forma, nos tornámos um apontamento ativo e de valer a pena na sociedade. Era isso que pretendíamos. Não queríamos, de todo, ser um gueto, isto é, apenas um sítio onde pessoas com deficiência encontravam o seu espaço para poder sobreviver», justifica.
Apesar da grande evolução e da consciência que começou a existir em relação às pessoas com deficiência, Maria José Dinis considera que «ainda olhamos de uma forma muito epidérmica para esta questão. Muitas das intervenções ainda são demasiado cirúrgicas e aquilo que no fundo desejaríamos, que deverá acontecer naturalmente, é que se faça olhar esta realidade com mais profundidade e com conhecimento de causa». Quanto ao futuro, a fundadora garante que a ASTA pretende continuar «o seu caminho», sendo que agora são «os próprios companheiros que nos impelem a arranjar novas soluções porque eles já aprenderam, já cresceram, já sabem quem são e querem mais como qualquer cidadão que pretende participar ativamente na sociedade».
Sara Guterres