Há as coisas que associamos a determinados sítios. E com as quais até definimos esse sítio. Por exemplo, a Guarda é frio e é a Sé. Sim, é muitas coisas mais e referir só estas é cair num lugar comum. Mas diria que por mais gentes e mutações que conheça na cidade, daquelas duas coisas nunca deixarei de me lembrar primeiro. Acho que O INTERIOR entrou neste grupo de coisas, neste património que associamos à Guarda, o que há 17 anos era impensável para algo que não passava de uma ideia arrojada do Luís Baptista-Martins. Lembro-me de estar numa das reuniões preparatórias – ainda antes de termos a primeira redação num apartamento frio (lá está: o frio) da Rua Miguel de Unamuno – e ainda ter dúvidas sobre se o projeto ia mesmo avançar. E lembro-me de pensar que se fosse mesmo avante seria fantástico. Era um sonho conseguir lançar um jornal que durasse, quanto mais um que ganhasse respeito e cuja marca tivesse valor.
O sonho concretizou-se, e acho que teve um ingrediente importante: ambição – além do rigor, mas esse faz parte da receita base do jornalismo, portanto já está pressuposto. Ambição: essa mania de estabelecer metas muito à frente –cadernos especiais, reportagens inéditas, rubricas aparentemente estranhas, editoriais fraturantes – faz sempre com que se avance, mesmo que não se chegue à meta. O importante é termos consciência disso, de que estamos a progredir.
Há tempos, nas minhas andanças africanas, perguntava a um escritor que falta faz a produção literária num país tão pobre como o seu? Faz falta, porque as pessoas estão literalmente a perder a capacidade de sonhar e isso faz com que se conformem com o subdesenvolvimento em que vivem.
Sonhar é preciso, como há 17 anos quando um novo jornal nasceu na Guarda para toda a Beira Interior. Parabéns, O INTERIOR. Não pares de sonhar e de nos fazer sonhar.
Por: Luís Fonseca
* Jornalista, chefe da delegação da Agência Lusa em Moçambique.
Foi jornalista de O INTERIOR de 2000 a 2003