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Coisas…

Aqui há umas semanas foi encerrada “provisoriamente” a Unidade de Cuidados Intensivos do hospital com o pretexto de que iriam ser efectuadas obras consideradas indispensáveis pela médica responsável. Até aqui tudo bem. Não terá sido coincidência o facto de, durante esse período, a médica ter aproveitado para gozar umas merecidíssimas férias depois de meses e meses a trabalhar quase sozinha, apenas com o apoio de alguns (poucos) colegas que sobrecarregavam essa ajuda com o trabalho que obrigatoriamente tinham que cumprir nos seus serviços.

No regresso das férias, pensou naturalmente que a reabertura da unidade dependia apenas da conclusão das obras, mas rapidamente se percebeu que a coisa não era assim tão clara. Durante a sua ausência tinha havido movimentações, contactos, visitas, reuniões e conspirações, criando um ambiente de incerteza que ninguém parecia conseguir compreender. Perguntava-se pelo hospital se a unidade estaria ou não já a funcionar; interessava a todos mas ninguém parecia saber a resposta. Até que, em determinada segunda-feira, é dada a ordem para reabertura da Unidade de Cuidados Intensivos logo seguida de contra-ordem no sentido do re-encerramento. O que é que isto fazia lembrar? Procurando-se os protagonistas das ordens e contra-ordens, encontravam-se… os mesmos da outra vez desempenhando os mesmos papéis; aquela da maternidade, recordam-se?

A Altitude chamou-lhe um figo. Deu a notícia e pôs cá fora mais uma vez o retrato de um Conselho de Administração descoordenado, descomandado e sem qualquer tipo de projecto coerente para o hospital que devia efectivamente dirigir. Foi o suficiente para que a campainha de alarme soasse bem alto e se precipitassem os acontecimentos: telefonemas, reuniões, apelos, pedidos, autorizações e desautorizações, enfim, o costume.

Chocante mesmo foi o que se constatou depois: enquanto alguém tudo fazia para conseguir aliciar médicos para assegurar o funcionamento da unidade (inventando à pressa “intensivistas à la minute” salvadores da pátria sem qualquer qualificação), outros tentavam por todos os meios desmobilizar esses mesmos médicos no sentido de evitar a tal reabertura, abrindo dessa forma a porta a uns pára-quedistas vindos de fora a quem já estaria prometido o tacho. E no meio de tudo isto nem a médica responsável pelo serviço nem os médicos que mais dele precisam nem ninguém no hospital, fazia a mínima ideia do que iria suceder.

Finalmente reabre a unidade com mais uma série de trapalhadas à mistura, vitórias e derrotas, mandos e desmandos e uma enorme falta de vergonha na cara de quem devia mandar e não manda.

Bom, agora vêm aí as férias grandes, as eleições, mais amuos, maternidades e unidades em risco de fechar, ordens e contra-ordens e as rádios e os jornais a marcarem o ritmo deste conselho de administração.

Já não há pachorra para este PPD que nos governa. Venha outro.

Por: António Matos Godinho

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