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Viva o bom povo brasileiro

Há quase cinquenta anos que assisto a cerimónias de aberturas dos Jogos Olímpicos e em cada quadriénio tento comparar umas e outras com a mais recente.

No fim-de-semana assisti à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, corolário de uma vitória da persistência do Presidente Lula da Silva há sete anos, que não merecia tamanha vilania ao ver um fantoche golpista abrir os jogos, debaixo de uma monumental vaia, algo jamais visto desde 1896.

Temer merece isso e muito mais, porque as golpaças em democracia têm que ter consequências agravadas para os que querem subverter a legitimidade constitucional, albardados em expedientes miseráveis e soezes. A assobiadela que “aplaudiu” a sua intervenção deixou-me muito contente, e como diria João Ubaldo Ribeiro ao titular a sua obra-prima de contos: “Viva o Povo Brasileiro”!

Gostei da sobriedade da abertura dos Jogos Olímpicos do Brasil, do seu extraordinário compromisso com o passado da sua história, da passagem da sua afirmação de ritmos musicais, a referência descomplexada da miscigenação de culturas de povos de origens tão díspares e sobretudo adorei as mensagens que foram sendo transmitidas com a simplicidade e a alegria que os brasileiros são capazes de dar. Gostei de ver um dos meus heróis da adolescência, o queniano Kipchoge ‘Kip’ Keino, que recebeu, e muito justificadamente o primeiro laurel olímpico, galardão criado pelo COI para homenagear alguém que encarne os valores do ideal olímpico.

Acho que vão ser uns bons Jogos Olímpicos e o Brasil merece que o sejam. A imprensa portuguesa andou sempre em busca de problemas não se preocupando em perceber o que é ter uns Jogos em que a língua é o português. Notícias do tipo: “Jogadores do basquetebol dos EUA vão para navio de luxo” é no mínimo vergonhoso ser enfatizado porque desde 1992, em Barcelona, que a seleção de basquetebol americana constituída por jogadores da multimilionária NBA ficam sempre alojados em instalações de luxo, longe até dos seus compatriotas presentes nos jogos; Faz parte do compromisso com a Liga Profissional Americana de Basquetebol. Mais um mau trabalho de uma imprensa que pode aproveitar estes eventos para ser pedagógica.

A RTP conseguiu, na cerimónia de abertura, ter um dos piores desempenhos que me lembro de ter assistido na cobertura de um evento desportivo internacional. Foi vergonhoso o que assisti até à entrada das delegações, tendo tido o bom senso de mudar para a SportTV onde a sobriedade e o rigor informativo dos presentes contrastava de forma evidente com os “enviados especiais” do canal público de televisão portuguesa.

Os dois comentadores da RTP pareciam que estavam a cobrir um daqueles programas da tarde em que as TV’s generalistas são pródigas, onde desfila toda uma panóplia de lugares comuns do mais disparatado e que as autarquias pagam vultuosas importâncias. Foi francamente mau com dichotes inapropriados, autoelogios desmedidos, desconhecimento de coisas básicas da vida quotidiana do Brasil e nenhuma informação de caracter desportivo, o que convenhamos era mau demais.

Os cidadãos merecem outras oportunidades de poderem ser informados, e a presença da RTP devia ter dado a dignidade que os Jogos exigiam. Não aconteceu e o que é preocupante é isto estar a acontecer repetidamente. Julgo que temos direito a mais!

Vivam os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016!

Por: Fernando Pereira

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