O Governo declarou de «relevante interesse público» a utilização não agrícola de 90 hectares de solos abrangidos pelo regime da Reserva Agrícola Nacional (RAN) – mas com reduzido potencial e aptidão agrícolas devido a uma antiga exploração mineira – na Quinta da Dramin, em Gonçalo (Guarda), para a concretização da segunda fase do Cegonha Negra Golf Resort & SPA. O projeto do empresário Alexandre Abreu vai surgir entre Gonçalo (Guarda) e a localidade de Gaia (Belmonte) num investimento estimado da ordem dos 66 milhões de euros.
A decisão consta de um despacho conjunto da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, e do secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Amândio Torres, publicado recentemente em “Diário da República”. Na prática, esta decisão vai permitir a construção de um hotel de 5 estrelas com 220 camas e de um museu dedicado à atividade mineira e às tradições da comunidade judaica da região, ambos projetados pelo famoso arquiteto norte-americano Frank Ghery. O empreendimento, divulgado em março de 2013, inclui também um aldeamento com 65 moradias unifamiliares, com capacidade para 520 camas, e um campo de golfe de 18 buracos desenhado pelo malogrado campeão Severiano Ballesteros. O futuro complexo é da responsabilidade da Sociedade de Desenvolvimento Agro-Turístico SA., com sede na Quinta da Bica, e os seus promotores estimam que possa vir a criar 220 postos de trabalho.
Classificado como Projeto de Interesse Nacional (PIN), o projeto obteve, a 14 de fevereiro de 2014, declaração de impacte ambiental favorável condicionada, designadamente ao cumprimento dos regimes jurídicos da RAN, da Reserva Ecológica Nacional (REN) e do relativo às áreas abrangidas pelo domínio público hídrico. De resto, o Turismo de Portugal já deu parecer favorável quanto ao interesse turístico do Cegonha Negra Golf Resort & Spa, tendo realçado o facto de apresentar «uma oferta qualificadora e diferenciadora, nomeadamente por o projeto de arquitetura do hotel, do museu e do campo de golfe serem assinados por nomes de referência internacional nas respetivas áreas, e de estar localizado num território de elevado potencial turístico pelos valores naturais, culturais e patrimoniais, bem como a circunstância do projeto se enquadrar nas linhas de orientação estratégica do Plano Estratégico Nacional do Turismo», lê-se no despacho a que O INTERIOR teve acesso.
O grande trunfo do projeto é o envolvimento de um dos mais famosos arquitetos do mundo. O empreendimento Cegonha Negra Golf Resort & Spa terá como ex-libris um hotel de cinco estrelas e o futuro Museu da Draga, que serão os primeiros projetos de Frank Ghery em Portugal. O arquiteto apresentou ainda o esboço da nova sinagoga de Belmonte, um projeto de grande simbolismo, pois, se for avante, será a primeira que o autor de ascendência judaica irá desenhar.
A marca Frank Gehry
A contratação de Frank Gehry, que esteve na Guarda em março de 2013, destina-se a repercutir na região a notoriedade que conquistaram edifícios emblemáticos como o Museu Guggeheim, de Bilbao (País Basco), ou o Hotel Marquês de Riscal, em Elciego (Rioja). Considerado um dos fundadores do Desconstrutivismo, tendência que rompe com a tradição e resgata o papel da emoção na arquitetura, Frank Gehry venceu em 1989 o Prémio Pritzker, tido como o Nobel desta área, por vários dos seus projetos se terem tornado ícones da arquitetura contemporânea.
Luis Martins